Era de Ouro – Como tudo começou

Quem me conhece através da Quadrim, em algum momento pergunta porque sou conhecido como “O Véio”. São muitos os motivos, mas garanto que a minha idade não é um deles. Afinal, entre nós há outros tão ou mais velhos do que eu. Acredito que o principal destes motivos esteja no fato de admirar muito as HQs da época em que surgiu o conceito dos super-heróis, que acabaria por dominar o mercado americano das histórias em quadrinhos. Um período chamado por fãs e pesquisadores de Era de Ouro. E sobre ela que pretendo falar aqui. Para começar, como podemos definir a Era de Ouro? Quando ela começa e quando ela termina?

As histórias em quadrinhos se tornaram populares nos Estados Unidos como parte da estratégia dos grandes jornais de Nova York no final do século XIX para ampliar sua vendagem. Logo, outras cidades norte-americanas seguiram o exemplo e tinham um espaço diário de destaque para as tiras de quadrinhos em suas páginas, além de um caderno especial só com HQs na edição de domingo.

O sucesso destas tiras de jornais fez com que algumas editoras reunissem coletâneas delas, publicando-as no formato de revistas em bancas de jornais. Surgiam assim as revistas em quadrinhos – os comics books – que no Brasil ganharam o apelido de Gibis. Elas não tinham vendas muito significativas, pois ninguém colecionava quadrinhos, que eram considerados tão descartáveis quanto os próprios jornais que se liam em um dia e no outro serviam apenas para embrulhar peixe (Humm… Tá. Tenho de concordar que embrulhar peixes com jornais é uma expressão de velho).

Mas tudo começou a mudar com a publicação da primeira edição da revista Action Comics, que trazia a primeira aparição de um personagem que redefiniu as HQs: Superman, o Homem de Aço. A partir dele surgiu o termo e o conceito de super-herói: o combatente do crime que cria para este fim uma identidade fantasiada e icônica. O personagem vendia milhões de revistas e logo centenas de outros personagens surgiram com a mesma proposta, buscando seu espaço no coração dos leitores e uma fração de toda aquela vendagem. Uma Era de Ouro estava surgindo, que trouxe vários outros personagens conhecidos e idolatrados até hoje: Batman, Mulher-Maravilha, Capitão América, Namor…

O auge das vendagens na Era de Ouro ocorreu na primeira metade dos anos 40, quando super-heróis se engajaram em suas histórias na luta contra os alemães e os japoneses na 2ª Guerra Mundial. Eles ficaram tão associados ao conflito que, com o seu fim, as vendagens das revistas entraram em uma queda irreversível, que se tornou ainda mais acentuada depois que suas histórias passaram a ser associadas de forma equivocada a pretensos “desvios de personalidade” da juventude americana. Apesar de alguns deles continuarem a ser publicados, já estavam longe de dominar o mercado como faziam no passado.

A grande maioria das publicações destes personagens foi descontinuada no final daquela década, sendo extintos ou tendo seus nomes e conteúdos alterados para encampar outros gêneros de HQs, como guerra, ficção científica, crime, horror e até romance. Os super-heróis só retornaram na segunda parte dos anos 50, estabelecendo a fase que se convencionou a chamar de Era de Prata. Mas isso já é outra história.

Enfim, sejam bem-vindos a Era de Ouro. Vamos falar aqui sobre uma época em que começa a ser formada aquela que está sendo chamada de mitologia moderna. Como se dizia nas antigas histórias, uma era em que heróis eram forjados.

Carlos Vinicius Marins

Jornalista, blogueiro, quadrinista, e fissurado em cultura pop. Era fã de quadrinhos antes mesmo de aprender a ler, pois vivia enfiado na coleção de gibis seu pai, recheada de revistas dos primórdios das HQs no Brasil. Costumava negar os boatos de que está por aí­ desde a criação do Universo, mas já desistiu disso.

  

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