Círculo de Fogo (Pacific Rim)
EUA , 2013 – 131 min.
Ação
Direção: Guillermo Del Toro
Roteiro: Guillermo Del Toro, Travis Beacham
Elenco: Charlie Hunnam, Heindallm, Rinko Kikuchi, Hellboy (Ron Perlman), Charlie Day
Existe filme criado para ser blockbuster que comete o erro de se levar a sério demais e acaba entregando muito menos do que o prometido, que precisa “atualizar o herói para os dias de hoje”, mesmo que isso signifique descaracterizá-lo, e que acaba se tornando um sucesso de bilheteria devido à “força do mito”, e garante uma continuação seguindo a fórmula de sucesso estabelecida pela concorrência e jogando outro herói na receita para garantir a próxima bilheteria (mesmo que o herói principal ainda não tenha sido bem desenvolvido no seu próprio filme).
E existe filmes que é feito com o único objetivo de divertir e, por alguma razão, naufraga nas bilheterias, impossibilitando uma bem-vinda continuação, que poderia aumentar a mitologia recém-apresentada.
Infelizmente, Pacific Rim se enquadra no segundo caso.
A premissa básica do filme não tenta se levar a sério, nem se mostrar profunda ou poética.
É uma premissa simples, às vezes até demais:
Monstros Gigantes enfrentam Robôs Gigantes.
Explorando descaradamente as lembranças nostálgicas que todo mundo com mais de trinta tem dos dias de sua infância, o diretor espanhol Guillermo Del Toro tirou todos os seus VHS com episódios de Ultraman e Ultraseven do armário, assistiu todos em loop e rabiscou o roteiro do filme (em mais ou menos três páginas, contando com todos os diálogos).
O resultado foi um filme que lembra muito uma imagem que volta e meia aparece no Facebook, geralmente com uma frase como “Nosso amor é épico, mas nada jamais será tão épico quanto o Batman enfrentando um tubarão usando um sabre de luz”…
O filme não tem roteiro, e nem precisa. Ele perde os cinco minutos iniciais explicando, via narração em off, que a invasão alienígena que sempre esperamos não veio do espaço, e sim através de uma falha tectônica que daria acesso a outra dimensão(!!!), de onde surgem monstros gigantes que parecem uma mistura do Godzilla com criaturas marinhas.
Para enfrentá-los, óbvio, não existe alternativa melhor do que criar robôs gigantes que, através de uma conexão neural (!!!) com os pilotos, reproduz exatamente os movimentos dos seres humanos que o controlam. Mas como a descarga neural (!!!!) é muito forte para um ser humano apenas aguentar, é necessário dois pilotos que irão calibrar suas mentes (!!!!!) e, agindo em conjunto, enfrentar os monstros.
Isso dura cinco minutos. E a quantidade de exclamações usadas deixa claro que um filme que usa termos como cumprimento neural e fenda dimensional não pretende se levar a sério nem por um minuto.
Essa é sua maior virtude, mas também é seu maior defeito.
Tudo bem, com uma premissa como essa, ninguém queria de fato um roteiro mega-profundo, com cenas contemplativas mostrando a infância de uma criança desajustada ou um sujeito com os poderes de um Deus que deixa o pai morrer, mas ao usar todos os clichês possíveis e imagináveis – do chefe durão que irá liderar a última missão ao guerreiro relutante e traumatizado que se torna a última esperança – a impressão que temos é que Del Toro duvida da capacidade mental do seu público alvo (não que se deva julgá-lo por isso), trazendo um roteiro extremamente previsível onde, na explicação do plano você já consegue visualizar exatamente qual será a cena final, e é exatamente isso que você recebe.
Sobra para os efeitos visuais, incríveis, que mostram os pilotos trabalhando em perfeita sincronia, executando os movimentos que na cena seguinte serão reproduzidas com exatidão por um robô do tamanho de um prédio, usando um navio cargueiro como um taco de baseball para acertar a cabeça de um monstro gigante.
O que pode ser mais épico que isso? Um gato vestido de tubarão, em cima de um aspirador de pó, perseguindo um filhote de pato talvez?
E apesar das batalhas do filme remeterem a Hong Kong e a Tóquio, logo fica óbvio que o filme na verdade se passa em Metrópolis, já que aqui também as batalhas deixam cidades inteiras destruídas, mas nenhum civil morre no processo.
É uma pena, no entanto, que o filme tenha sido um fracasso de bilheteria, sepultando suas chances de ter uma sequência. Seria muito interessante ver um segundo filme que explorasse melhor o consumo ilegal de órgãos dos kaiju, ou mesmo os desdobramentos da última missão.
Resta torcer que essa imensa mitologia em potencial possa ser explorada em quadrinhos ou jogos de vídeo-game, já que no cinema dificilmente passaremos desse primeiro filme.
Infelizmente.
AINDA ARDE, MARVETE?
Ainda há esperança, Márcio.
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