Amolando Faccas Extra - O Coringa não pode morrer!

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Olá, Tropa!

Como vocês sabem, em ocasiões realmente diferenciadas, o poder EXTRA é invocado e essa coluna tem de trabalhar de fim de semana (maldito editor que me mantém acorrentado aqui na cadeira). O assunto hoje é uma POLÊMICA levantada por um dos meus roteiristas favoritos, Grant Morrison, em uma participação no podcast do Kevin Smith.

Sim, aquele.

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Podcast bacana, bastante convidados da indústria, mas só pra quem tá afiado no inglês.

Bom, para resumir a história pra quem é nerd e estava em outra dimensão sem internet: Morrison e Smith, falando sobre Batman, chegaram à famosa e sensacional história A Piada Mortal, de Alan Moore e Brian Bolland. Nesse papo, Morrison mandou a teoria de que o Batman teria MATADO o Coringa no final, entre os quadros 5 e 6.

Segue abaixo a página da polêmica:

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Bom, desnecessário dizer que isso fez nerds ao redor do mundo terem suas cabeças explodidas e vários outros indo às suas estantes buscando a edição para fazer a famosa “prova dos 9”. Particularmente, nunca tinha reparado nesse detalhe e achei todo esse comentário muito estranho.

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Parece o Patrick Stewart, mas é o Grant Morrison no traço do Frank Quitely.

Antes de continuar, vamos relembrar que não é a única vez que o Coringa teria sido morto nos quadrinhos. Para resumir aqui apenas a históricas marcantes, temos o Coringa sendo morto pelo próprio Batman na mais do que clássica, diria OBRIGATÓRIA, CAVALEIRO DAS TREVAS do Frank Miller, mais precisamente em seu terceiro capitulo, onde a relação entre os dois é mais dissecada, até o fim, onde o Batman finalmente acaba com seu algoz (com uma ajuda do mesmo, claro).

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Cobrem-me para falar um dia sobre a relação dessa história com o Batman dos anos 60.

Outra história famosa e adorada entre os membros do site Quadrim é o clássico REINO DO AMANHÃ, de Mark Waid e Alex Ross, onde o Coringa é morto, não pelo Batman, mas por Magog, o expoente dos novos heróis que vinham surgindo para substituir os heróis clássicos.

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Ê anos 90, todo mundo contra o Superman, ainda mais com esse rabinho de cavalo, rs.

Em uma referência mais recente, o Príncipe Palhaço do Crime também foi uma vitima fatal de suas artimanhas em INJUSTICE: GODS AMONG US, dessa vez morto nas mãos do próprio Superman, após o Coringa fazê-lo assassinar Lois e o filho não nascido devido a um envenenamento de kryptonita.

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Uma cena chocante na versão dos quadrinhos, muito bem adaptada por sinal.

Notaram um padrão nessas 3 histórias? Tirando o fato de serem Elseworlds, claro.

Toda vez que o Coringa é morto, é sinal que as coisas não vão bem. Mas não é um “não vão bem, mas vão melhorar”. A morte do Coringa sempre significa que o inferno está chegando pelo caminho. Sempre significa que um herói ou falhou ou cruzou uma linha que ele não deveria ter cruzado, falhando. Significa a saída mais óbvia para acabar com a ameaça de um assassino serial que não parece ter mais jeito.

E, segundo o modus operandi do Coringa, quando ele morre assassinado significa que ele venceu, pois assim ele justifica que, com o devido empurrão, qualquer um faria o que ele faz, ou seja, ele se justifica, se torna uma vítima dos acontecimentos. Ele vence.

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Agora voltemos para A PIADA MORTAL.

Quem leu a história sabe o que o maluco do Alan Moore queria com ela. Ele queria falar mais do que a origem do Coringa, ele queria falar sobre a linha tênue que separa alguém considerado são de um maluco degenerado como o nosso querido jóquer. Estava falando de como temos que ser fortes, com uma fibra moral inabalável para sobreviver às pressões dos acontecimentos da vida. Mais ainda, ele fala em como Batman e Coringa podem ser as duas faces da mesma moeda, sendo o Batman um verdadeiro psicopata, só que útil à sociedade ao combater o crime. CHUPA DEXTER.

Histórias são mensagens.

O próprio Moore diz isso. Ele manda seu recado pela boca de James Gordon. O Comissário fora sequestrado e havia sofrido abusos nas mãos do Coringa e seu circo de horrores, após ter visto sua filha Barbara ter recebido um tiro à queima-roupa (e provavelmente violentada sexualmente) pelo Coringa, mas ele é o cara da fibra moral que diz ao Batman exatamente o que fazer, nos quadros abaixo:

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Gordon insiste para que o Coringa seja pego pelas regras, para provar de uma vez por todas que o método funciona e que nem todos são como ele.

E, para quem não sabe, vale lembrar que, originalmente, a Piada Mortal não era para ser parte da cronologia DC e sim uma história à parte. Mas como ficou boa, decidiram incluí-la, lá no Esquadrão Suicida ao mostrar a personagem Oráculo, que depois se revelou como Barbara Gordon.

Aí entra a teoria do Morrison.

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O Batman teria cruzado essa linha realmente?

Ela muda todo o sentido da história. O simples fato do Batman matar o Coringa naquela situação é dar a vitória ao Coringa, por ser exatamente o que ele queria, fazer um homem bom cruzar a linha e se tornar um monstro como ele. Matando, Batman seria esse monstro.

Moore foi mais longe ainda.

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A origem da Oráculo.

Ao simplesmente rir daquela piada, junto a um demônio em forma de gente, que estuprou, matou, aleijou e tentou transformar aliados e entes queridos dele em alucinados como o próprio Coringa, Moore mostrou o tamanho da demência do próprio morcego, que levou toda aquela tragédia como um jogo, uma brincadeira entre amigos.

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Cenas fortes, amiches.

E honestamente, acho ainda mais assustador.

Lógico, entendo o contexto explicado no podcast, ainda mais sabendo que a história era para ser fora da cronologia. Mas percebam, amigos leitores, o quanto o final original ainda mexe com a maioria de nós leitores. E como a história ainda é poderosa para, décadas depois, causar todo esse rebuliço entre os fãs.

No fim, acho que agora cada leitor tem ao menos o direito da escolha de interpretação dos fatos apresentados, já que o contexto vai mostrar o que pode entendido disso tudo. Mas, como já disse antes, a morte do Coringa sempre traz o inferno para a Terra. E nossos heróis são defensores, quando eles se tornam agressores as coisas não vão acabar bem.

E vocês, o que acham?

 

André Faccas

André Faccas - 29 anos, aprendeu a ler com quadrinhos, que se tornaram tão vitais quanto Água e oxigênio. Nunca leu Sandman, acha Alan Moore superestimado e sente saudades de Frank Miller, antes de ser abduzido pela mídia. Mestre Jedi e espião do MI6, com licença para trollar.

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Comentários

comentários


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5 Thoughts on “Amolando Faccas Extra - O Coringa não pode morrer!

  1. leandro alves|

    apenas digo, que se o Coringa estivesse morto, ele estaria enterrado até hoje…

    e a Piada Mortal, destruiu para mim, para sempre o que eu achava que ele era um heroí. ou como os policiais de Gotham dizem: “é só um louco fantasiado.”

    ninguém ri daquele jeito após o que fizeram com a Barbara e o mais triste é que no final de Arkham City, (o jogo) o game me dava uma pista do que o Batman era quando disse que salvaria o Coringa mesmo se matasse TODOS os amigos dele e seus entes queridos.

    ou seja, é o Coringa e $#$%$%$¨o resto.

    odeio o Alan Moore, que criou essa história e deram um jeito dessa coisa repercurtir nos Novos 52.

    • Oi, Leandro. Cara, não é a primeira vez que você comenta sobre esse assunto, então resolvi bater um papo sobre A Piada Mortal. Tem muitas formas de interpretar o final, uma delas é aquela sugerida pelo Morrison, que o Faccas lembrou na coluna dele, segundo a qual o Batman teria finalmente matado o Coringa (algo que não entrou pra cronologia, mas pode ter sido sim sugerido pelo Moore, a julgar que as risadas param e a sirene pode ter virado um grito). O consenso é que naquele momento o Coringa finalmente conseguiu chegar perto de enlouquecer o Batman, levando-o a uma situação de estresse tão grande que ele teve uma espécie de “surto”, explodindo naquela risada nervosa. Não é que o Batman seja louco, ou que ele de fato tenha achado graça, mas ele estava em choque. Isso acontece às vezes em situações traumáticas como acidentes, as pessoas desatam a rir de nervoso. A ideia provavelmente era mostrar que nem o Batman está imune à loucura do Coringa. Veja bem: o Coringa sequestrou e torturou duas pessoas próximas e queridas do Batman. As fotos sugerem que ele fez coisas inomináveis com o Comissário Gordon. O Batman não chora, não tem acessos de raiva, nada disso. Ele resolveu a situação (da forma possível) e, quando finalmente capturou o Coringa, todas aquelas emoções precisavam extravasar de uma forma. E acabou sendo esse “surto”, esse breve momento de insanidade, de quase desespero, na forma de uma risada. Não significa que ele é louco, apenas que ele é humano. Um humano muito forte, mas que tem o seu “ponto de ruptura”. Talvez você não goste da história por ser fã da Batgirl mas, como alguém que acompanhou os anos 90, posso te garantir que Oráculo foi uma personagem muito mais importante na mitologia do Batman do que Batgirl/Bárbara Gordon, e isso só foi possível graças aos eventos de A Piada Mortal. Pessoalmente, achei um retrocesso tremendo trazer essa versão da Batgirl de volta nos Novos 52 (e a qualidade das histórias estava sofrível até pelo menos A Morte da Família, depois não li mais). Nem vou falar dessa ideia de rejuvenecer a Bárbara e transformar ela num ícone hipster, porque isso é deboche, e não respondo a deboches. Espero que um dia você consiga curtir A Piada Mortal que, se não é a melhor, é sim uma das histórias mais marcantes do Batman, com muito mais significado além de “aquela história onde o Batman riu de uma piada do Coringa”. PS: Essa relação doentia entre o Batman e o Coringa é mote de quase todas as histórias que focam neles. O Batman não pode matar o Coringa, por várias razões, mas principalmente porque isso faz parte do mito: o Batman não mata, se matasse não era o Batman, era outro personagem. Esse é o mito do Batman, o mito de um herói que acredita que é preciso vencer o crime sem matar, que mortes só geram mais mortes. De certa forma ele é quase – eu disse “quase” – um pacifista. Sugiro ler, por exemplo, A Morte da Família (só a série principal do Scott Snyder, os tie-ins são péssimos), que aborda isso mais a fundo. O Coringa é talvez o vilão mais cruel do universo DC, mas em dado momento dessa história o Batman fala que, se ele morrer, Gotham vai mandar alguém pior, e talvez ele não esteja preparado para isso. Bom, era isso, fique à vontade para responder!

      • leandro alves|

        gostei da sua resposta, Vitor Azambuja. pensei que falar mal de uma história ou personagem aqui na Quadrim, seria rechaçado e mandado a Zona fantasma por um de vocês. ha,ha

        sobre o caso do riso do Batman ter sido causado pelo estresse…eu não sei, ele não tem a mente mais “bem treinada” do que uma pessoa comum? diabos, aposto que nem o Henry Canvil seria forte mentalmente como o Bruce Wayne. o Batman já viu coisas piores com outros parentes, conhecidos ou amigos dele e não reagiu mais dessa maneira. mas como não sou especialista nele como vocês, não posso falar muito.

        e não acredito que ele tenha matado o Coringa no fim da história. no máximo o Batman engasgou o palhaço até fazê-lo desmaiar. vocês disseram num Quadrimcast, que houve uma luta onde o Bruce tinha que matar alguém (os motivos me escapam agora), e para resolver isso. ele aplicou um golpe para achar que o oponente tinha morrido no pulmão e o derrotado acordou horas depois.

        embora eu nunca mais perdoe o Batman por não vingar a Barbara (“Vingança” não significa exatamente matar, se bem que por mim…) eu respeito a sua opinião e dos integrantes da Quadrim. não vou odiar ninguém aqui, vocês me fizeram correr atrás de Hqs e ser um Nerd completo. mas não vão me fazer perdoar o Alan Moore.

        aposto que algum de vocês não gosta do Joe Quesada ou do artista que teve a ideia da Saga do Clone do Homem Aranha.

        aguardo o próximo Quadrimcast ou alguma matéria e feliz 2015 a todos.

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