Herói de Brinquedo 04 - A Queda da McFarlane Toys

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Como vimos na última coluna, a McFarlane Toys invadiu o mercado de actions figures e praticamente ajudou a definir a escala de 7” como uma das mais importantes para os colecionadores, trazendo personagens icônicos, cada vez mais bem feitos e detalhados.

Mas o mercado – e a vida – são cruéis, farejam o medo e a vulnerabilidade como uma matilha de lobos famintos em uma floresta no meio da madrugada, e se quanto maior a altura, maior é a queda, a ascensão meteórica de Todd McFarlane traria uma derrocada tão magnífica quanto trágica.

McFarlane teve sua cota de problemas pessoais, sendo o maior deles a longa disputa jurídica pelos direitos de personagens criados pelo escritor NEIL GAIMAN nas páginas de Spawn (a caçadora de demônios Angêla, a versão medieval do Spawn e Cogliostro, um mendigo que era mais do que parecia ser). Em 1997 os dois fizeram um acordo, onde Gaiman abria mão dos direitos dos personagens em troca dos direitos do personagem britânico MARVELMAN, que pertenciam a McFarlane.

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Angela, Medieval Spawn, Coglionostro e a Estatueta da Discórdia

Só que anos mais tarde McFarlane quebrou sua parte do acordo, lançando figuras e estatuetas de Marvelman, o que motivou Gaiman a entrar na justiça.

Foram anos de disputas judiciais, que no final deram ganho de causa à Gaiman (os jurados foram unânimes em decidir que basicamente Mcfarlane tinha sido um filho da puta e deu para Gaiman todos os direitos de seus personagens enquanto paralelamente ao processo a Marvel adquiria os direitos do Marvelman. Anos mais tarde, Gaiman vendeu a personagem Angêla para a Marvel, que a inseriu em seu universo de super-heróis, no que é considerada uma afronta pessoal contra McFarlane).

Em 2004, o jogador de hóquei TONY TWIST também processou McFarlane, pois o autor tinha batizado um personagem mafioso nas páginas de Spawn com o nome do jogador, “denegrindo” sua imagem. McFarlane, muito fã de esportes, era amigo pessoal de Tony e decidiu “homenageá-lo” nas páginas do gibi, pagando muito caro por isso, já que para selar o acordo, teve que desembolsar 5 milhões de dólares (Anos mais tarde, em 2012, McFarlane voltaria a enfrentar exatamente o mesmo tipo de processo, dessa vez sendo acionado judicialmente pelo amigo de longa data Al Simmons, usado para batizar seu personagem principal, Spawn).

O verdadeiro Tony Twist e o verdadeiro Al Simmons. Com amigos como esses, quem precisa de inimigos?

O verdadeiro Tony Twist e o verdadeiro Al Simmons. Com amigos como esses, quem precisa de inimigos?

McFarlane teve que investir muito tempo e dinheiro em suas disputas judiciais e, com isso, não conseguiu se dedicar com tanto afinco à empresa (e nem investir em novas licenças), criando um vácuo no mercado que foi percebido por uma pequena empresa chamada NECA.

A empresa soube aproveitar-se da vulnerabilidade do concorrente e começou a explorar o mesmo nicho, primeiro com outros personagens, como a versão cinematográfica de Sin City, com figuras com o rosto de Mickey Rourke e Bruce Willis, depois explorando uma linha exatamente igual à Movie Maniacs, trazendo personagens clássicos do cinema.

Se tinha Bruce Willis na jogada, a Neca começou bem.

Se tinha Bruce Willis na jogada, a Neca começou bem.

Com o sucesso da linha, que trazia cada vez mais personagens icônicos, a empresa encheu os cofres de dinheiro, e decidiu investir pesado para conseguir os direitos das MESMAS franquias já exploradas pela McFarlene, mas com tecnologia aprimorada, novos escultores e mais acessórios, lançando bonecos que não só deixavam qualquer colecionador babando, mas pareciam fazer questão de HUMILHAR o concorrente.

Apenas alguns exemplos do que a Neca pode fazer por você...

Apenas alguns exemplos do que a Neca pode fazer por você…

Sentindo o golpe, a McFarlane precisou voltar-se para dentro, e passou a investir nas linhas próprias, como a vergonha alheia Dragões e a bem sucedida linha militar. Vendo que não podia mais concorrer com a Neca no próprio segmento que tinha criado, McFarlane percebeu um novo nicho no mercado e começou a investir em figuras da Música, com Jim Morrisson, Slash, Elvis, Bom Jovi, Ozzy Osbourne, Alice Cooper, Jimmy Hendrix, Iron Maiden e outros (apenas para, posteriormente, ver mais uma vez a NECA também entrar nesse segmento, fazendo figuras melhores que a McFarlane, com escolhas muito mais inspiradas para figuras, como Mick Jagger, Keith Richards e Kurt Cobain).

Bon Jovi, McFarlane... Sério mesmo?

Bon Jovi, McFarlane… Sério mesmo?

Em 2006, já sem sucesso em conquistar licenças novas, Mcfarlane tentou mudar o foco do cinema e olhara para a televisão. Era o auge do sucesso de LOST, e eles foram bem sucedidos em conseguir os direitos de figuras baseadas no seriado.

A primeira série trazia os personagens Jack, Kate, Locke, Hurley, Charlie e a fraquíssima Shannon, que foi um fracasso de vendas (era basicamente uma figura sem articulação nenhuma, deitada em uma toalha, de olhos fechado e que nem sequer lembrava a atriz Maggie Grace).

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Além das figuras, eles também lançaram o gift set The Hatch, que era basicamente a recriação da cena do final da temporada, onde o grupo descobria a escotilha. A peça era realmente muito bem feita, acendia uma luz para reproduzir a iluminação interna da escotilha e vendeu muito bem, na sua época.

Em 2006 a McFarlane também conseguiu a licença da série de animação The Simpsons, lançando dois dioramas especiais, figuras estáticas sem articulações, reproduzindo cenas específicas dos desenhos animados. Sem novidades na TV e sem licenças de cinema, eles investiram em figuras de desenhos animados da Hanna Barbera, investindo em duas séries no mesmo ano.

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O sucesso da primeira série de LOST rendeu uma nova tentativa em 2007, explorando os personagens Sun, Jin, Mr. Ecko e Sawyer. Este último era a figura mais esperada de todas, já que desde o início ele se tornou o personagem preferido de 99% dos espectadores do seriado (eu represento o 1% que preferia o Jack, mas como gosto do Capitão América e do Ciclope, os rumores são que gosto de personagens “certinhos” e chatos).

Mas a representação escolhida pela McFarlane Toys foi muito questionada pelos fãs e colecionadores, que se decepcionaram com a pose e com o fato de terem escolhido uma das raras cenas onde o anti-herói preferido do público aparecia sorrindo, e ninguém queria ter na prateleira uma figura que não condizia com a atitude do personagem na televisão.

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No mesmo ano, a McFarlane Toys finalmente lançou duas séries com personagens derivados da série animada dos Simpsons. A primeira, baseada no primeiro longa animado da família amarela, explorava os membros da família de forma individual e quem comprasse todos os personagens conseguia formar um diorama com os Simpsons no cinema:

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A série ainda trazia mais três figuras / dioramas, uma com o Comichão e Coçadinha, uma com Bart, Flanders e o peixe mutante e a última com Bart pelado e as gêmeas, que era a mais engraçadinha.

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No mesmo ano, a McFarlane Toys ainda lançou mais duas séries dos Simpsons, mas logo depois, em sua estratégia de aparentemente destruir a rival, a NECA tirou a licença dos Simpsons das mãos da McFarlane, que fez então sua segunda investida na tentativa de substituir as ausentes licenças de cinema pela televisão, lançando duas figuras baseadas no seriado de sucesso 24 Horas.

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A McFarlane já mostrava sinais claros de cansaço, falta de planejamento e até recursos financeiros. Mesmo com o imenso potencial da série 24 Horas, eles só lançaram essas duas figuras, sendo uma representando a totalidade da “Série 1” e a outra a totalidade da “Série 2”, perdendo a oportunidade de explorar outras figuras de Jack Bauer, Tony Almeida, Chase Edmunds, Cloe O´brien, e tantos outros personagens que passaram pela tela do seriado.

E, em 2008, finalmente a McFarlane “bateu seu último prego no caixão”, lançando a última figura que poderia ser considerada como um derivado da linha Movie Maniacs, o Don Vito Corleone de O Poderoso Chefão.

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Repetindo o erro de planejamento anterior, a McFarlane perdeu a chance de explorar a licença e, dessa forma, tentar recuperar parte do mercado perdido, lançando apenas essa única figura de Vito Corleone, desperdiçando a chance de lançar figuras de Michael Corleone, Sonny e tantos outros (mas verdade seja dita, a briga por direitos de licenciamento é uma verdadeira guerra, e eles só conseguiram a licença para explorar a IMAGEm do personagem de Marlon Brando, já que na teoria cada ator teria que liberar o licenciamento da sua própria imagem).

2009 marcou o primeiro ano desde que a McFarlane entrara com a linha Movie Maniacs a não ter nenhum lançamento da empresa baseado em filmes ou seriados, deixando claro que a empresa passava por dificuldades.

E, no ano seguinte, a empresa provou que realmente nada mais seria como antes, ao conseguir explorar a licença do filme blockbuster do ano (que acabou se revelando um grande fracasso) O Príncipe da Pérsia, mas em vez de manter o padrão criado e estabelecido por eles de 7” (agora formalmente pertencente a NECA), a McFarlane Toys optou por lançar uma linha na escala 4 ½”, que simplesmente não existe em nenhuma outra empresa!

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É difícil de acreditar, mas essas coisas são figuras da McFarlane Toys…

Ou seja, fizeram figuras de ação que não ficam legais nem com os bonequinhos padrão Marvel Universe e G.I. Joe, de 3.75” e nem com as demais figuras lançadas pela própria empresa, talvez apostando que da mesma forma que em 1988, poderiam novamente “mudar o mercado”, criando sua própria nova escala (o que evidentemente não aconteceu).

Nos últimos 3 anos, já sem a confiança da indústria do cinema ou da televisão (que direcionaram a maior parte das licenças para a NECA), eles ficaram apenas com as figuras da própria IMAGE para explorar, e um último sopro de esperança surgiu nos fãs ao saber que, pelo menos, eles seriam os únicos que poderiam explorar o crescente sucesso do seriado baseado nos quadrinhos da IMAGE, The Walking Dead.

Inexplicavelmente, a empresa optou por manter a escala de 4 ½”, desperdiçando scanners a laser feitos nos atores em figuras do tamanho de brinquedos.

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A McFarlane deixou de fazer colecionáveis para fazer brinquedos. Brinquedos feios, ainda por cima!

Um final decadente e lamentável, para uma estória que literalmente mudou o mercado de figuras de ação.

Sidekick do Cão Vergonha, o Gato Vergonha se impressiona com o destino da McFarlane Toys

Sidekick do Cão Vergonha, o Gato Vergonha se impressiona com o destino da McFarlane Toys

Enquanto isso, a NECA continua crescendo a passos largos, investindo em novas licenças e aprimorando sua capacidade produtiva, consolidando-se definitivamente como “herdeira” da escala 7”, merecidamente.

Mesmo não colecionando mais figuras na escala 7” há anos, de tempos em tempos vejo algum lançamento da Neca, e figuras como Exterminador do Futuro, Jason, Rocky e toda a linha Predador são simplesmente de cair o queixo, e estas são apenas algumas das licenças sob o guarda chuva da empresa atualmente:

  • 300
  • Uma História de Natal
  • Alien
  • Aliens vs. Predator: Requiem
  • A Hora do Pesadelo
  • Psicopta Americano
  • Army of 2 (Game)
  • Uma Noite Alucinante
  • Assassin’s Creed (Game)
  • Assassin’s Creed II (Game)
  • Os Fantasmas se Divertem (Beetlejuice)
  • BioShock 2 (Game)
  • BioShock Infinite (Game)
  • Borderlands (Game)
  • Bubba Ho-Tep
  • Castlevania (Game)
  • Charmed (Seriado)
  • O Brinquedo Assassino
  • As Crônicas de Nárnia
  • Kurt Cobain (Música)
  • Fúria de Titãs (2010)
  • Coraline (Neil Gaiman)
  • O Corvo
  • O Desperta dos Mortos (1978)
  • Dead Space (Game)
  • Devil’s Rejects, The (Filme)
  • Devo (Música)
  • Duro de Matar
  • Donnie Darko
  • E.T (Spielberg)
  • A Morte do Demônio 2
  • O Exorcista
  • Freddie Mercury (Música)
  • Freddy vs. Jason
  • Sexta Feira 13
  • Os Caça Fantasmas
  • Gears of War (Game)
  • God of War (Game)
  • Green Day (Música)
  • Gremlins
  • Grindhouse
  • Halloween (1978)
  • Resident Evil (Game)
  • Resident Evil 5 (Game)
  • RoboCop
  • Scarface
  • V de Vingança
  • Half-Life 2 (Game)
  • Halloween (2007)
  • Harry Potter
  • Hellraiser
  • Highlander
  • O Guia do Mochileiro das Galáxias
  • A Casa dos 1000 Corpos (Rob Zombie)
  • Insane Clown Posse (Música)
  • Iron Maiden (Música)
  • John Lennon (Música)
  • Johnny Ramone (Música)
  • Joey Ramone (Música)
  • Jonah Hex
  • Kill Bill
  • O Labirinto (Labyrinth )
  • Left 4 Dead (Game)
  • Left 4 Dead 2 (Game)
  • O Senhor dos Aneis
  • Masters of the Universe (He-man)
  • The Nightmare Before Christmas (Tim Burton)
  • Círculo de Fogo (Pacific Rim)
  • O Labirinto do Fauno
  • Piratas do Caribe
  • O Fantasma (The Phantasm)
  • Portal 2 (Game)
  • Predador
  • Predador 2
  • Predadores (Filme novo)
  • Prototype (Game)
  • Prometheus
  • Cães de Aluguel
  • Jogos Mortais
  • Panico
  • Shaun of the Dead
  • O Silêncio dos Inocentes
  • Os Simpsons
  • Street Fighter IV (Game)
  • Sweeney Todd
  • Sin City
  • Splinter Cell: Conviction (Game)
  • Team Fortress 2 (Game)
  • As Tartarugas Ninja
  • O Exterminador do Futuro
  • O Massacre da Serra Elétrica
  • Tomb Raider (Game)
  • Trick ‘r Treat
  • Crepúsculo
  • Rocky

O retorno do mercado, foi altamente promissor, possibilitando que a empresa investisse em novos mercados, lançando figuras na escala ¼ ou 18”, com figuras ultra detalhadas dos Predadores e, vejam só vocês, até mesmo Os Vingadores da Marvel Studios, em mais uma jogada de Marketing exemplar da Marvel, que consegue dessa forma explorar seus personagens o máximo possível, em qualquer escala possível e, para falar só das figuras da Neca acho que seriam necessárias duas ou três colunas…

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A diferença da escala de 18’ (1/4) e da de 7” (1/18) na primeira foto, e as figuras da Marvel pela NECA

E falando em escalas, noto nesta terceira edição que essa é uma informação essencial para qualquer colecionador e como para mim falar de escalas é algo tão normal quanto conversar com um leitor de quadrinhos sobre Doritos, pode parecer que estou falando grego para o leitor habitual que se interessa por bonequinhos, mas não quer saber dessas tecnicalidades.

Então me acompanhe em nossa próxima coluna, quando falaremos sobre as escalas, quais são as diferenças entre elas, porque alguns centímetros separam brinquedos de criança de obras de arte e, acima de tudo, porque a escala 1/6 é a segunda melhor invenção de Deus (a primeira é a Mulher).

Até lá.

Marcio Sampayo

Marcio Sampayo é membro do Quadrimcast, tem 37 anos e fã de Quadrinhos, Cinema e Cultura Pop desde que se conhece por gente. Marvete convicto, tem uma obsessão nem sempre bem explicada por Action Figures, Capitão América e Bruce Willis, não necessariamente nessa ordem.

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Comentários

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2 Thoughts on “Herói de Brinquedo 04 - A Queda da McFarlane Toys

  1. Que isso cara, as figuras da NECA são a pior enganação que já vi, comprei uma do conan e me arrependi tanto que a joguei fora, não sou o maior fã das figuras da McFarlane não, mas não concordo com a opinião deste poste.

  2. Concordo, as figuras de ação da NECA são horríveis, todo colecionador sabe disso, não chegam nem perto do auge da Mcfarlane (a do Vito Corleone mesmo, a última dos moicanos é mil léguas melhor do q qualquer figura da NECA, e é só olhar o preço, baratissimo lá fora, Mcfarlane cobrava pouco e entregava um produto de qualidade, coisa q a NECA não chega nem perto), colecionador de verdade sabe q figura de ação realmente BEM FEITA HOJE é hot toys, enterbay, sideshow e tantas outras. São caras aqui no mercado brasileiro, mas lá fora qqr um compra, NECA e outras são para o público do terceiro mundo, pros latino dos USA e tantos outros q não tem um centavo no bolso e tem q se contentar c essa porcaria. MInha dica: ao invés de comprar quantidade (uns 10 bonecos da bosta da NECA, compre 1 só das q eu disse, vc NUNCA irá se arrepender)

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