Quadrim Entrevista - Cris Peter

You are here: Home » Quadrim Entrevista (Post) » Quadrim Divulga - Catarse » Quadrim Entrevista – Cris Peter

Olá Tropa, temos hoje mais um Quadrim Entrevista e dessa vez temos um dos maiores nomes do quadrinho nacional, uma mulher que tem a honra de ser a única brasileira indicada ao prêmio Eisner, além de trabalhos primorosos como Casanova e Astronauta – Magnetar! Uma das musas dos quadrinhos nacionais, CRIS PETER!

CrisPeter

Quadrim: Cris, a pergunta básica que fazemos aos entrevistados: como você começou a ler quadrinhos? Quais são seus artistas, personagens, histórias preferidas?

Bom, vou ser bem honesta. Eu nunca li muito quadrinhos. Eu entrei nesse ramo através dos desenhos animados. Eu via muito anime e depois fui para o lado dos mangás, mas eles não eram muito populares na época, então era impossível encontrar exemplares em português a venda aqui em Porto Alegre. Meus amigos (que também desenhavam) eram mais fãs de comics, e foi através deles que acabei pendendo para esse lado. Mais por uma questão de oportunidade do que por interesse.

Quadrim: E de onde surgiu a vontade de se tornar uma colorista e não uma desenhista ou uma arte-finalista?

Desenhar sempre foi muito difícil pra mim. Um esforço muito grande, e sempre fui muito rodeada de pessoas que tinham mais facilidade de desenhar do que eu, que acabavam sendo muito críticas com o meu trabalho, até por não gostarem do meu estilo mangá. Como era muito novinha e boba, acabei cedendo as criticas deles e fui desgostando de desenhar. Mas a colorização, não sei porque, me deu mais gana de persistir. As pessoas a minha voltam continuavam muito críticas, mas apesar disso eu não consegui deixar a colorização de lado. Algo em pintar os desenhos me fazia sentir que eu estava completando algo, sabe? Que eu estava colaborando com aquele desenho de alguma forma.

Quadrim: O mercado atual (tanto aqui no Brasil quanto lá fora) para coloristas, como é? É um ambiente concorrido, é um ambiente com mais demanda que profissionais…?

Bom, em primeiro lugar, não podemos colocar no mesmo patamar o mercado do Brasil e dos EUA. Definitivamente eles não tem características e demandas iguais. Pra começar, aqui no Brasil, na minha opinião, não existe demanda. O que existem são artistas e editoras lutando para criar um mercado. E está funcionando. Cada vez temos mais destaque, mas ainda estamos no início. Lá nos EUA, o mercado continua em crise. As editoras estão desesperadas por mais consumo de revistas e acabaram ficando presos naquele ciclo de produzirem materiais clichês para ter a garantia de venda.

Resumindo, o mercado não vai bem para quem quer ser colorista. Existem muitos profissionais para poucas revistas, sendo que cada um desses profissionais pode pegar mais de uma edição pra colorir por mês. É um ramo muito difícil de se estabelecer. Eu mesma, demorei 9 anos pra conseguir finalmente uma carta de clientes e revistas suficientes para ter uma boa renda. Mas isso não deveria impedir ninguém de tentar. Quem tem persistência e vontade pode conseguir qualquer coisa. É só não ficar tão focado na “fama e sucesso”. Faça o que gosta e o resto vem de brinde.

Quadrim: Além de você, temos vários coloristas nacionais consagrados no mercado americano (Rod Reis, Marcelo Maiolo para citar alguns). Você chegam a “trocar figurinhas” sobre colorização, falar sobre técnicas e dicas ou colorização é um trabalho mais “pessoal”?

Não trocamos muitas figurinhas 🙁

Mas isso é só porque moro muito longe deles! Se eu morasse em São Paulo ficaria aborrecendo eles o tempo todo! hahaha.

Tenho muita curiosidade em saber como eles trabalham, mas como cada um está sempre atucanado com as edições que estão colorindo, fica meio difícil de conversarmos sobre técnicas.

Quadrim: Na sua carreira, você já fez trabalho para muitas obras, inclusive para a Marvel. Como é o processo para colorir uma revista dos X-Men? O artista define as cores previamente, você tem uma liberdade de sugerir coisas…?

Normalmente, com a Marvel, eu tenho muita liberdade! Amo trabalhar com eles, pois me deixam trabalhar a paleta, o estilo, tudo com total liberdade. E pouquíssimas correções depois da entrega.

Cris Peter e seu trabalho numa página dos X-Men

Cris Peter e seu trabalho numa página dos X-Men

Quadrim: Dentre suas conquistas, não se pode deixar de citar a indicação ao Eisner pelo seu trabalho com Casanova. Como foi a sensação de ser indicada em uma premiação tão importante no mundo dos quadrinhos?

Eu ainda acho que foi um sonho, que não aconteceu de verdade. Eu não esperava a indicação, ainda me achava invisível no mercado. Foi uma honra enorme que eu espero que se repita.

Casanova

Casanova

Quadrim: Além de Casanova, você esteve envolvida na criação de Astronauta – Magnetar, obra vencedora do HQMix na categoria Edição Especial Nacional. Como foi o seu trabalho nessa obra, lidar com cenas bem abertas e iluminadas contrastando com cenas densas e sombrias?

É interessante, porque eu não percebo essas diferenças entre um título e outro. Eu acabo ficando tão focada em combinar a cor com o desenho do artista que acabo esquecendo as referências anteriores que eu tinha. Realmente as cenas mais abertas do Astronauta me deram mais liberdade de trabalhar com texturas e borrifos, pra dar aquela ideia de espaço. Acho que muitas das referências que eu utilizo pra colorir histórias acabam sendo bem subjetivas, refletindo iluminações e paletas que já vi em filmes, pinturas, fotos, etc.

CrisPeter_Magnetar

Astronauta – Magnetar

Quadrim: Além dos trabalhos nos quadrinhos, você lançou com sucesso via Catarse o livro O Uso das Cores (que atingiu 150% do valor necessário), falando sobre colorização. Porque decidiu lançá-lo através de crowdfunding?

Eu estava procurando uma maneira nova de divulgar o projeto e de coletar o dinheiro necessário pra poder arcar com questões que eu não tinha conhecimento (como diagramação) e tempo de executar (como pesquisa e envio do material). Quando vi o pessoal lançando projetos no Catarse, resolvi tentar. Nunca imaginei que seria tão bem sucedido.

Quadrim: E como surgiu a ideia do livro? Você acha que falta material de referência na área de colorização?

Na verdade a ideia do livro é algo antigo. Desde que concluí minha monografia no final da faculdade em 2008, eu senti que não havia escrito o que eu queria a respeito. Depois, percebi que haviam muitas questões que o pessoal na internet (através do meu blog e do portal rio ComicCon) me questionava que eu não conseguia responder em poucas palavras. Foi mais o público da internet que me deu a dica de que eles gostariam de um material que mostrasse mais a prática e o raciocínio do uso das cores. Temos muito material a respeito da teoria, mas nada que mostre a prática.

Quadrim: Finalizando, gostaríamos que você deixasse o seu conselho para aqueles que pensam em trabalhar com quadrinhos ou que já estão dando os primeiros passos na carreira e (porque não) pensam em se tornar coloristas com tanto talento quanto você.

Para alcançar uma carreira de sucesso em qualquer área, é necessário paciência, sacrifício de horas, de dinheiro, inteligência administrativa, emocional e persistência. Não seja ansioso, não force a barra. Respire fundo e tente abrir mais a cabeça.

Equipe Quadrim

Nerds e Apaixonados por cinema, séries de TV, animação, games e, especialmente, quadrinhos; os membros da Quadrim se reúnem aqui pra dar sua opinião, mesmo sem ninguém pedir, sobre todos os assuntos que fazem parte desse maravilhoso mundo.

Facebook Twitter 

Comentários

comentários


Esse espaço é destinado aos visitantes da Quadrim para interagir entre si e com os membros da equipe. Não é necessário realizar login, basta informar nome e e-mail. Pedimos a todos que se expressem com respeito e cordialidade, evitando ofensas gratuitas e palavras de baixo calão.

A Quadrim não se responsabiliza pelas opiniões postadas nesse espaço por seus visitantes, mas solicita a todos que se utilizem de sua liberdade de expressão com a devida atenção às regras normais de convívio social. Os comentários estão sujeitos a moderação no caso de descumprimento dessas instruções.


2 Thoughts on “Quadrim Entrevista - Cris Peter

  1. O que mais gosto na Cris é que ela, ao contrário de outros coloristas brasileiros, não tenta desencorajar quem está em seus primeiros passos, muito pelo contrário.
    Ela é sem dúvida a minha maior fonte de inspiração pra seguir esse caminho.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.



Konami Easter Egg by Adrian3.com