Quadrim Entrevista - Milena Azevedo

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E aí #Tropa, hoje temos mais um QUADRIM ENTREVISTA,  o nosso espaço para falar com artistas dos quadrinhos. E pra esta entrevista temos uma mulher (sim, nerds, mais uma representante do sexo feminino!) que roteiriza quadrinhos, organiza exposições, faz resenhas… MILENA AZEVEDO!

Quadrim: Milena, a pergunta básica que fazemos aos entrevistados: como você começou a ler quadrinhos? Quais são seus artistas, personagens, histórias preferidas?

Meus pais me falaram que por volta dos dois anos de idade eu já gostava de andar com uma revistinha da Turma da Mônica na mão. Não rasgava e até desvirava quando eles me davam de cabeça pra baixo.

Eu nunca fui muito de ler HQs de Super-heróis, mas adorava os desenhos animados de Os Superamigos e Homem-Aranha e seus amigos. Eu era vidrada também naquele desenho da Dupla Dinâmica e nos desenhos “desanimados” da Marvel, feitos pela saudosa Filmation.

Bom, mas o quadrinho que mexeu comigo e me fez começar a colecionar pra valer foi X-men – o conflito de uma raça (escrito por Chris Claremont e desenhado por Brent Anderson), primeira graphic novel publicada pela editora Abril, em 1988. Iniciei essa coleção em 1988 (com onze anos de idade) e só consegui completá-la em 2006. Valeu a pena!

X-MEN_CONFLITO_DE_UMA_RACA_CAPA

A partir de Conflito de uma raça, eu passei a adorar os X-men, mas aqui em casa só aparecia uma revista aqui e outra acolá, e eu lia as sagas todas incompletas e não entendia nada. Aquilo era um tormento e acredito que tenha me causado um certo trauma. Mas aí, eu e meu irmão descobrimos Asterix, Tintim e Lucky Luke. E foram essas duas séries franco-belgas que me iniciaram na arte da perambulação pelos sebos para adquirir HQs.

Ora, pra quem lia avidamente Turma da Mônica e Disney, conhecer as BDs europeias e descobrir Will Eisner, Alan Moore e Frank Miller, um tempo depois, foi a revolução que faltava.

Listar as histórias preferidas é sempre complicado, mas depois de Conflito de uma raça, sem sombra de dúvidas O Edifício foi um dos quadrinhos que mais me marcou, junto com No coração da tempestade (tenho a versão da Abril), ambos de Eisner. Outra paulada na cabeça foi Watchmen.

Ah, meus personagens preferidos… Batman sempre em primeiro lugar, seguido pelo Surfista Prateado (que eu só descobri na faculdade), Thor e Wolverine.

Quadrim: Bom, você é roteirista, colecionadora, historiadora… E durante muito anos, foi a dona de uma comic shop, a Garagem Hermética, aí em Natal. Como foi o processo, desde a abertura da loja em 2005 até seu fechamento (2008, se mantendo por mais dois anos como loja virtual)?
A ideia de montar a GHQ surgiu do meu amor pelos quadrinhos e por saber que muitos dos amigos que colecionavam sentiam falta de um local onde eles pudessem ser tratados de forma normal, além de poder comprar, no mesmo mês de lançamento, os quadrinhos com distribuição setorizada.

Eu me afiliei ao HQ Club e trouxe a Natal, pela primeira vez, títulos como 100 Balas e exemplares autografados por mestres como Rodolfo Zalla e Ivo Milazzo. Também consegui livros autografados, como Homens do Amanhã, do Gerard Jones, e títulos com brindes, como o kit graphic novel + camiseta de Modotti. Fiz parceria com a Moviecom, e os clientes ganhavam ingressos pra ver qualquer filme, em qualquer horário, inclusive nos finais de semana. E criei eventos, como o Cine GHQ e os momentos de venda e troca de quadrinhos entre os clientes.

A GHQ não era uma banca, como infelizmente muitos achavam, por desconhecer o conceito de comic shop (livraria especializada em quadrinhos e memorabilia).

Apesar de ser uma comic shop, a GHQ também funcionava como ponto de encontro dos artistas locais e divulgação dos trabalhos dos mesmos. Fico feliz que muitos voltaram a produzir depois que eu abri a loja.

Infelizmente, amor pelo produto que você vende não move o comércio. 2007 foi um ano com altos e baixos (mais baixos do que altos) e em 2008 a situação não mudou. Como eu não tinha lucro líquido (ou seja, o dinheiro que “sobrava” no mês precisava ser usado como capital de giro para a compra de novos quadrinhos), aguentei até onde deu.

Aí, em julho de 2008 eu fechei a loja física e continuei vendendo na internet, com um site e-commerce e um blog paralelos. Isso até 2010. Foi um período bacana, que vendi até bem, mas infelizmente um hacker bagunçou o site de vendas e quase me deu um prejuízo grande. Senti que era hora de mudar. Resolvi dar baixa na GHQ (loja virtual) e pensei em criar um espaço virtual para falar sobre quadrinhos, com notícias, resenhas, matérias… Mas o PortalGHQ só se materializou de fato como eu queria em janeiro de 2011, mais encorpado do que o blog homônimo que eu havia criado alguns anos antes.

Quadrim: Das “cinzas” da comic shop, surgiu o site Garagem Hermética Quadrinhos. Quais as dificuldades e as alegrias de cuidar de um portal voltado a quadrinhos?
Olha, tem prós e contras bem grandes. No início eu convidei algumas pessoas pra formar uma equipe, mas deixei bem claro que cada um só enviaria algum texto quando pudesse. Aí eu vi a responsabilidade de sozinha ter que diariamente ficar filtrando as notícias sobre quadrinhos, filmes, seriados e games. Disse “filtrando” porque não valia a pena eu postar notícias que os grandes portais, como Universo HQ e Omelete, fossem soltar também. A não ser, claro, quando eu recebia release de lançamento e/ou evento. Passei um ano assim. Foi osso. Então, em 2012 eu resolvi fazer atualizações três vezes na semana (segundas, quartas e sextas), e mantive o padrão esse ano também.

Estou pensando em dar uma repaginada no PortalGHQ, em 2014, pois não sei se vou conseguir manter o ritmo sozinha. Pra vocês terem uma ideia, eu gasto em média umas três/quatro horas procurando notícias e vídeos interessantes, depois faço a seleção e traduzo (quando o texto original é em inglês ou espanhol, tudo bem, mas quando é em francês, alemão, italiano, já viu).

E vou ser bem sincera. Tem dias que só faço esse trabalho extra porque sei que tenho alguns leitores fieis.

ghq_logo

Quadrim: E você não se limita ao GHQ, você também é colaboradora do Universo HQ.
Ah, quando o Sidney Gusman me convidou, no final de 2011, pra fazer parte da equipe do Universo HQ, eu nem acreditei. Ele avisou que era na faixa e que eu ficasse à vontade pra escrever as resenhas quando pudesse. Eu não podia dizer não. Abracei com gosto a oportunidade, até porque eu estava saindo do Solto na Cidade, guia cultural daqui de Natal, onde eu resenhava filmes.

O Sidney envia periodicamente uma lista com títulos novos (de todas as editoras, e também material independente) pra cada membro da equipe resenhar e a gente seleciona o que quer fazer. Claro que vale também escrever sobre um título mais antigo ou importado.

E logo no início, a regra é bem clara: o Sidney pede pra que a gente seja o mais imparcial possível, analisando erros de português, acabamento, impressão, roteiro, arte, não importando se é alguém já famoso ou um ilustre desconhecido.
Tento escrever uma resenha por semana (às vezes consigo, às vezes não). É uma experiência bacana, até porque também passei a receber algumas HQs das editoras (mesmo essas cortesias são analisadas com todo o apuro).

Quadrim: Além de tudo isso, você arranja tempo pra organizar eventos, como a parte de quadrinhos do III Festival de Livros e Quadrinhos de Natal (FLiQ), que acontece entre os dias 22 e 25 de outubro agora. Como é trabalhar num evento desse porte, e o que o pessoal que estiver no FLIQ pode esperar?
Quando Rilder Medeiros, o organizador do Circuito Potiguar do Livro, me convidou para ser a curadora do setor de quadrinhos da FLiQ, eu também agarrei a oportunidade com unhas e dentes. Era a primeira vez em Natal que um empresário se dispunha a fazer um evento literário inserindo os quadrinhos.

Não foi fácil conseguir patrocínio e tivemos que convidar poucos artistas, mas minha gana em fazer o evento acontecer era muito grande. Eu me doei mesmo. Por completo. Fiz até coisas que não estavam em minhas atribuições. E valeu.

Quase 190 mil pessoas passaram pelo pavilhão da FLiQ durante uma semana. Muitos professores de escolas públicas do interior do Estado fizeram caravanas pra trazer os alunos. Vocês estão vendo como 2011 foi importante pra mim?

A FLiQ é um evento eclético e esse é seu diferencial. Temos espaço pra literatura, pro cordel, pros quadrinhos, pros cosplayers, pra música. Porém, Rilder está percebendo que o público que vem em sua maioria é atraído pela área dos quadrinhos (que envolve também os mangás, os cosplays e os dubladores) e parece que em 2014 teremos umas novidades (mas não posso falar nada ainda).

Esse ano de 2013, no qual a Mônica está completando 50 anos, a nossa atração principal não podia deixar de ser o pai dela. Eu suei, mas consegui uma vaga na agenda do Mauricio de Sousa. E teremos também a participação da Petra Leão, roteirista da Turma da Mônica Jovem, do mestre Mike Deodato Jr. e do Geraldo Borges. As temáticas das oficinas oferecidas também mudou. Esse ano vai ter oficina de produção de fanzine, de tiras, e até de como conservar livros e quadrinhos.

Esse ano, também fui chamada pelo Praia Shopping para criar um evento de cultura pop, a HQ Zone. Foram 10 dias muito bacanas, com exposições, palestras, bate-papos, oficina, quiz sobre videogames. O resultado foi tão positivo que em 2014 teremos a segunda edição. E não vai ficar só por isso. Tem outro evento muito, mas muito bacana, que deve acontecer por lá depois da HQ Zone. A espera valerá a pena.

E eu estou aqui pra isso. Organizar evento é cansativo, mas é prazeroso também.

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Quadrim: E não bastasse tudo isso, você ainda tem o projeto Visualizando Citações buscando financiamento no Catarse, sendo que na verdade já existe na forma digital através do site e agora busca conseguir uma versão impressa. De onde surgiu a ideia desse projeto inicialmente?
Sempre que leio algum livro, tenho o costume de anotar algumas passagens que achei relevante, pode ser uma sentença, um diálogo, um parágrafo.

Essas anotações são feitas em minhas agendas. E como eu “colecionei” uma quantidade considerável de citações, pensei que podia aproveitá-las de alguma forma inovadora. Então, a ideia para o projeto Visualizando Citações foi nascendo em meados de 2011, até que amadureci a proposta de tomar cada citação como mote para uma história diferente do contexto original proposto pelos autores, em quadrinhos de uma a três páginas, em preto-e-branco. Escrevi os vinte roteiros entre julho de 2011 e janeiro de 2012 e fui convidando os desenhistas de várias partes do Brasil (Natal, Fortaleza, Salvador, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Paranaguá e até um angolano residente em Lisboa). Mesclei profissionais experientes com alguns em início de carreira e o resultado ficou muito bom.

Publicamos quatro edições em 2012, totalizando 18 HQs curtas. Em 2013, ficamos entre os oito concorrentes na categoria Web Quadrinhos, do Troféu HQ Mix. Isso trouxe uma visualização muito grande, e os leitores me pressionaram para fazer uma versão impressa. Foi então que enviei o projeto para duas editoras, que me disseram que era legal, mas que “mix” não vendia tanto quanto uma história fechada. Então, o financiamento colaborativo se tornou uma saída interessante.

Fiz uma consulta entre os membros da equipe do Visualizando Citações, pesquisei orçamentos e vi o que a gente poderia oferecer como recompensas, no Catarse. Aí, inseri o projeto lá.

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Uma das páginas do projeto

Quadrim: Uma coisa bacana desse projeto é usar textos famosos e transformá-los em quadrinhos. Como é o processo de criação, você seleciona os textos, os autores tem a liberdade de selecionar textos…?
Bom, eu faço assim. Folheio as minhas agendas e vou passando a vista nas citações que anotei. Fico “matutando” pra ver se alguma ideia me ocorre e então já separo aquela citação e parto para escrever o argumento e depois o roteiro.

Depois do roteiro pronto, eu faço uma pré-seleção de quais desenhistas têm o traço para aquele tema proposto na história e vou fazendo os convites. Ganhei “nãos” muito simpáticos, e “sims” eufóricos. Só estou tomando cuidado com o toque que o Spacca (João Spacca de Oliveira) me deu, pra tentar usar autores cujas obras caíram em domínio público ou, caso estejam vivos, procurar entrar em contato com eles, pois caso não concordem com a minha mexida em suas obras, eu não publico a HQ.

Claro que ganhar um “sim” de autores como Ana Paula Maia ou Octavio Aragão, que respeito à beça, é gratificante. Mas eles não escolhem a citação, não.

Quadrim: O projeto ainda está no ar, o que você pode dizer aos leitores que podem estar indecisos quanto a financiar o projeto?
Esse é um projeto que está sendo feito com muito carinho e cuidado. Os desenhistas que abraçaram o Visualizando Citações estão criando peças maravilhosas, algumas que me deixam sem palavras pelo apuro e preciosismo com que são feitas.

Eu tenho plena consciência de que o Visualizando Citações é um projeto diferenciado, mais voltado pra quem curte não apenas quadrinhos, mas principalmente literatura.

A concorrência com vários bons projetos (todos querem ter algo pra mostrar no FIQ) é grande, mas garanto que aqueles que apoiarem o Visualizando Citações terão um material inovador nas mãos.

Já fiz um novo orçamento e vou pedir a Segunda Chance essa semana. Mas pra isso a gente precisa chegar a 30% da meta estabelecida inicialmente, ou seja 6 mil reais.

Vamos lá, pessoal, contamos com vocês!

Quadrim: E pra finalizar, que recado você daria a quem pensa em trabalhar com quadrinhos, seja desenvolvendo webcomics, webtiras ou partindo pra publicação impressa…
A palavra-chave é persistência. Se a gente faz algo com amor, se dedica, procura sempre fazer melhor, apurando as técnicas e tal, não pode desistir no primeiro “não”. Os artistas também precisam ter maturidade para aceitar críticas construtivas e entender quando o produto final ainda não está bom o suficiente. Ou às vezes a gente sabe que algo é bom, mas o mercado ainda tem restrições quanto ao formato ou ao tema proposto. Assim, se você quer criar e publicar HQs, tiras, zines, persista, estude, se aprimore. Os frutos virão.

É isso aí, pessoal, quem quiser colaborar, basta clicar na imagem abaixo e contribuir! O projeto se encerra no dia 11 de outubro de 2013, sendo que com R$ 30 você garante o seu exemplar se você for a FIQ!

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