Antes de Watchmen: Comediante
Autores: Brian Azzarello (roteiro) e J.G. Jones (arte)
Editora: DC / Panini
Decididamente Brian Azzarello não nasceu pra escrever Antes de Watchmen (apesar de ter nascido em 1962 e a série ter sido lançada em 1988. Piada infame, dsclp).
Quando comentei Antes de Watchmen: Dr. Manhattan, já tinha enfatizado que o capítulo mais fraco da série até o momento tinha sido justamente o escrito por Azzarello para Roscharch.
E não é que no comediante ele repete a dose? E, nesse caso, frustrando totalmente as expectativas dos fãs. Não duvidaria que, em uma enquete, sobre os personagens da série Comediante e Roscharch ganhassem entre os preferidos do público em geral. Justamente por esse lado mais anti-herói que ambos tem e que tão sucesso faz entre os nerds.
Por seu trabalho em 100 balas, que comentamos no Quadrimcast 56, a maior parte dos fãs apostaria no nome do autor para escrever justamente esses dois personagens, afinal de contas, nessa série Brian mostrou saber muito bem como escrever sobre personagens amorais, disfuncionais e com uma trama muito bem amarrada. Não vemos nada disso em Antes de Watchmen: Comediante.
A história sofre do mesmo mal que a do Roscharch, não se referencia com a obra original. E aí fica a pergunta: Por quê? Será que a preocupação exagerada dos fãs com que a obra original fosse “maculada” acabou segurando a mão de Azzarello e o fez escrever contos genéricos com esses personagens? Se esse foi o caso o tiro saiu completamente pela culatra. Estes personagens são MUITO interessantes dentro do contexto criado por Moore. Sem fazer referências a série original eles acabam por ser apenas mais personagens genéricos. (Sinceramente já li histórias do Pacificador, personagem da Charlton que inspirou Moore pro Comediante, melhores do que essa).
No caso da história deste volume, vemos inclusive algumas inconsistêncas (descaracterizações ?) do personagem principal. Ele é retratado como amigo da família Kennedy. (Really?) Na série original Moore me passou a visão de um Comediante muito mais republicano e reacionário. Não sei se os Kennedy seriam o tipo de família com quem ele teria muitos laços não.
A falta de moral do personagem está lá, sem dúvida nenhuma. (Apesar de ter me surpreendido negativamente a reação dele à morte de Kennedy). Mas parece que a história é apenas para isso. Mostrar o quão louco e imoral ele é. As cenas de ação parecem ter sido incluídas para enfatizar isso. Sem aprofundar em praticamente nada.
Momentos marcantes do personagem durante a série que poderiam ter sido referenciados nesse encadernado passaram em branco. A carga dramática presente no encontro dele com o Dr. Manhattan no Vietnã (apesar de mostrar duas visitas do Comediante ao país), o sarcasmo e a falta de fé dele quando propuseram o retorno dos Minuteman, sua relação doentia com Sally Júpiter e a filha, o momento em que ele descobre o plano de Ozymandias e se desespera…
Tudo isso foi abandonado pelo autor. Que preferiu só mostrar o quão “porra-louca” o personagem é, sendo extremamente superficial em sua abordagem.
A arte de J.G. Jones está quase tão burocrática quanto o texto. Cumpre seu papel mas não utiliza o potencial que uma história que se passa no universo rico de Watchmen e Gibbons soube retratar tão bem.
Seguindo nas avaliações da série como um todo diria que as do Azzarello, são justamente as que eu não recomendaria. E que ele não saiba disso no momento de autografar minhas edições de 100 balas durante o FIQ.