Olá, #TropaQuadrimcast, prontos para mais um Quadrim Entrevista? Hoje entrevistamos dois artistas nacionais que já lançaram uma de suas criações mas agora buscam financiamento para seguir publicando a história de um… peixe peludo? Conversamos com Rafael Moralez e Rodrigo Bueno, os criadores da HQ Peixe Peludo!
Quadrim: Rafael e Rodrigo, a pergunta básica que fazemos aos entrevistados: como vocês começaram a ler quadrinhos? Quais são seus artistas, personagens, histórias preferidas?
Rafael – Eu leio quadrinhos por influência de meus pais e irmãos, sempre gostei do Hagar, das coisas do Henfil, Saci Pererê do Ziraldo, Flash Gordon, depois quando fiquei mais adulto li muito Laerte, Crumb e quadrinhos europeus.
Rodrigo – Me alfabetizei lendo e desenhando quadrinhos. A linguagem me encantou muito cedo. Esse negócio de personagem que fala através de balões, cheios de linhas que indicam movimentos e sensações, as convenções dos quadrinhos. Mas o bicho pegou na adolescência, lá pelos 12, 13 anos. Foi através da capa do disco “Brasil” do Ratos de Porão, desenhada pelo Marcatti. É um desenho muito poderoso que até hoje me emociona. Na época fiquei impressionado com a sintonia entre a figura e as músicas daquele disco. Porrada pura! Em seguida descobri que o Marcatti também fazia quadrinhos, quadrinhos e guitarras. Fui atrás e li quase tudo dele. Ele é meu primeiro herói artístico.
Quadrim: A parceria de vocês vem desde a faculdade, não? Como foi a decisão de trabalhar juntos na obra Peixe Peludo?
Rafael – Nossa parceria começou por meio de um Fanzine que eu fazia na época de faculdade, chama Produto do Ócio e era uma coisa bastante sarcástica, humor ácido e bastante incorreto para uma cidade conservadora como Londrina. Sempre reunia material de outras pessoas para publicar no Fanzine e o Rodrigo era um dos colaboradores. Ao encontrá-lo em São Paulo a parceria foi quase natural, começamos a pensar em zines e coisas assim. O Peixe Peludo surgiu de um longo texto que escrevi no primeiro ano em que morei em São Paulo, o Rodrigo leu e sugeriu fazer um quadrinho com ele, achei a ideia muito boa e ele inventou o personagem. Ficamos assim, eu com o enredo e ele com os desenhos, tem sido uma excelente parceria.
Rodrigo – Essas coisas de parceria acontecem, a gente não tem muito controle. O Peixe Peludo foi isso aí.
Quadrim: E de onde surgiu a ideia do personagem, um peixe antropomórfico?
Rafael – Isso é com o Rodrigo.
Rodrigo – Surgiu de uma memória perturbadora da minha infância. Era um mascote da peixaria Guanabara, lá em Presidente Prudente, onde eu ia com meu pai. Na parede tinha um desenho gigante de peixe todo elegante, usando cartola casaca, todo garboso, caminhando com duas perninhas. Da boca dele saia um balão onde se lia “coma peixe”. Como assim, “coma peixe”?
Quadrim: Peixe Peludo (a primeira edição) saiu em 2010 pela Conrad. Podem nos contar como foi o processo até a edição impressa sair?
Rafael – Nossa relação com a Conrad foi muito tranquila, queríamos lançar o 2 pela editora, mas ela não mostrou interesse, então partimos para o modelo independente mesmo. Como já fizemos bastante Fanzine não é nada muito novo tomar conta de tudo.
Rodrigo – O Peixe Peludo é um tipo de quadrinho bem diferente. Não tem quase nada das convenções básicas dos quadrinhos. Só tem um personagem e a cidade que as vezes está dentro ou fora dele. Fizemos uma história sem grandes pretensões, com o mesmo despojamento do fanzine. Publicar por editora foi uma surpresa. A gente estava prestes a xerocar tudo e distribuir para os amigos quando apresentamos o projeto pra Conrad. Eles leram, gostaram e publicaram. Foi tudo muito rápido. De repente o livro estava na rua e a gente ouvia elogios e críticas de pessoas desconhecidas. Tudo isso nos incentivou a continuar a parceria e insistir nesse formato de quadrinho, Peixe Peludo.
Quadrim: E agora vocês buscam financiar a segunda edição de Peixe Peludo via Catarse. Porque tentar o financiamento coletivo e não uma editora?
Rafael – Um pouco porque cansou essa história de bater na porta dos outros para lançarem o seu quadrinho, segundo porque fazer você mesmo sempre foi a saída, o lema punk “do it yourself!” não tem nada de antigo ou defasado. O Catarse é um ferramenta fantástica nesse sentido, torna o projeto coletivo, todo mundo participa doando e possibilitando sua realização!
Rodrigo – Financiamento coletivo é uma revolução cultural. Os apoiadores investem nos projetos de uma forma carinhosa e criam uma relação afetiva com os autores, bem diferente das corporações com metas comerciais que valorizam sobretudo o lucro. O compromisso com essas pessoas é muito mais estimulante. Dá mais trabalho pra gente, mas tem sido mais gratificante.
Quadrim: O que os leitores que já leram Peixe Peludo #1 podem esperar de Peixe Peludo #2?
Rafael – Diria que o personagem está mais bem construído, temos uma sequência melhor e a história se desenrola com fatos que acontecem contemporaneamente. Trata-se de uma trilogia, o número 3 vai dar sentido final a isso tudo que tem no 1 e no 2.
Rodrigo – Usei mais tinta preta, bem mais.
Quadrim: E pra quem não leu nenhum dos dois, o que podem contar da obra sem dar spoilers?
Rafael – O peixe caminha por São Paulo e pensa na sua vida, na vida dos outros e porque continuar com isso tudo…
…Mas afinal o que é spoilers?
Rodrigo – Tem muitas referências de artes plásticas, literatura e música. Tem umas cenas que marcaram esse ano, uma cena de manifestação, lugares pitorescos como a cracolândia e tem bicicleta também.
Quadrim: Peixe Peludo #2 ainda não está garantido, então o que vocês diriam ao leitor indeciso que não sabe ainda se apoia a iniciativa?
Rafael – Ele vai dar certo, temos certeza, ainda tem muita gente que vai colaborar e temos certeza de que ele sai do papel ainda esse ano. Tivemos um baita sucesso e excelente repercussão da mídia com o número 1, o #2 vai no mesmo caminho. Pode botar fé, não tem como dar errado!
Rodrigo – Ao leitor indeciso: vamos torrar todo seu dinheiro na qualidade gráfica, pra fazer um livrão lindo pra você. Ele chegará autografado na sua casa. Acima de sessenta reais, você receberá um original, que pode ser emoldurado e decorar a parede sua casa pelo resto da vida! O livro também vai durar o resto da vida se você quiser. É um bom negócio!
Outra coisa: o site é super seguro, não tenha medo de fazer pagamentos e disponibilizar seus dados. Pode usar os do Facebook numa boa. Pode pagar por boleto também, se você não tem cartão de crédito (é assim que eu faço).
Quadrim: E pra finalizar, que recado você daria a quem pensa em trabalhar com quadrinhos, seja desenvolvendo webcomics, webtiras ou partindo pra publicação impressa…
Rafael – Faça, não se importe com o que te digam, não espere por editora, por sites nem nada assim, faça você mesmo, construa sua linguagem e seu modo de passar a mensagem que quer mandar, mas FAÇA. Não tem jeito certo nem errado de fazer, tem o SEU jeito, então mãos a obra e comece a fazer seu caminho. As coisas mais legais que vi de quadrinhos e desenhos nos últimos tempos foram feitas de modo improvável e totalmente contrariando o esquema que aí está, então FAÇA.
Rodrigo – Se pensar você nem começa. É uma atitude irracional. E não são essas as melhores atitudes da vida?
É isso aí, pessoal, quem quiser conferir o projeto do Rafael e do Rodrigo, basta clicar na imagem abaixo e contribuir! A partir de R$ 25 você já garante uma edição impressa, sendo que o projeto vai arrecadar dinheiro até dia 29 de outubro de 2013! E se você se interessou em obter o primeiro volume, você pode comprá-lo no site da Comix!
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