Quadrim Comenta – Os Cavaleiros Do Zodíaco: A Lenda Do Santuário

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Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário
Japão, 2014 – 93min aprox.
Gênero: Animação, fantasia
Direção: Kei’ichi Sato
Roteiro: Chihiro Suzuki
Elenco (dubladores no Brasil): Letícia Quinto, Hermes Baroli, Élcio Sodré, Francisco Bretas, Ulisses Bezerra, Leonardo Camilo e outros.

Primeiro filme em CGI dos populares heróis japoneses “Os Cavaleiros do Zodíaco” reconta a primeira grande aventura do grupo, “A Saga das 12 Casas”, buscando uma nova geração de fãs.

AVISO: essa crítica pode conter alguns spoilers, caso você não esteja familiarizado com a “A Saga das 12 Casas”. Mas, nessa hipótese, você tá fazendo o quê aqui, hein?

Há algo de quase mágico no fenômeno que “Os Cavaleiros do Zodíaco” representam no Brasil. Talvez tenha sido a insistência da Rede Manchete com o anime, talvez tenham sido os bonequinhos da Bandai que viraram sonho de consumo de crianças e adolescentes nos anos 90, ou talvez a história dos Defensores de Athena seja realmente muito, muito legal. De qualquer forma, não dá pra negar o quanto são queridos esses personagens no país, e quem já tem seus 25 ou 30 anos deve lembrar do quanto Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun, Ikki e Saori foram populares por aqui quando a TV ainda era analógica e a internet ainda era discada.

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Embora seu criador Masami Kurumada e a Toei Animation, dona da franquia, tenham lançado ou apoiado vários projetos com os Cavaleiros nos últimos anos, como novos episódios do anime, novos longas metragens (incluindo o bom “Prólogo do Céu”), novas séries no mangá ou no próprio anime, videogames, e etc., nenhum era tão ambicioso quanto o filme que estreou nos cinemas brasileiros no último dia 11/09. E nenhum foi tão mal sucedido.

Considerando a proposta de reintroduzir os lendários Cavaleiros de Bronze a toda uma nova geração de fãs, ao invés de apenas agradar os mais antigos, apostando em um visual diferente e em uma “nova” aventura inspirada na clássica “Saga das 12 Casas”, o longa totalmente em CGI “A Lenda do Santuário” fracassa horrivelmente.

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O filme é extremamente apressado, personagens complexos como os Cavaleiros de Ouro ou os próprios protagonistas, mal surgem e já são esquecidos. Para ilustrar, sem spoilers, apenas cito que, após mostrar rapidamente uma boa sequência de abertura onde o Cavaleiro de Ouro de Sagitário foge do mítico Santuário com a reencarnação de Athena ainda bebê, o filme corta para 16 anos à frente, mostrando Saori já mais crescida em um carro em movimento, no qual seu motorista tem com ela um diálogo mais ou menos assim: “Senhorita, como hoje é seu aniversário de dezesseis anos, lembrei-me que seu avô pediu que eu contasse, nessa data, que a senhorita é a reencarnação da deusa grega Athena, e que existem uns tais Cavaleiros do Zodíaco que juraram protegê-la. Ok?”.

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A revelação à Saori – e a explicação para o público sobre quem era Athena e quem são os Cavaleiros – dura aproximadamente dois ou três minutos, e tudo acontece numa conversa casual, sem qualquer montagem de cenas para ilustrar. Apesar disso, o desfecho da conversa acaba sendo interessante, já que logo em seguida Cavaleiros de Prata (não identificados) atacam o carro de Saori. É quando aparecem Seiya, Shun, Shiryu, e Hyoga surgindo para salvá-la. A luta, todavia, também não dura muito mais do que a introdução da história que referimos acima. A coisa é tão corrida que eles simplesmente esquecem de dizer qualquer coisa além do próprio nome. Se não me falha a memória (há coisas nesse filme que tento muito esquecer), apenas a armadura de Pégaso é identificada. O espectador desavisado não fica sabendo que Hyoga é o Cavaleiro de Cisne com poderes ligados ao gelo, que Shiryu é o Cavaleiro de Dragão com um escudo indestrutível, que a armadura de Shun faz alusão à lenda de Andrômeda, e por isso é a única do grupo com armas próprias. As constelações não são mencionadas em parte alguma do filme!

Nessa sequência fica claro que a grande preocupação dos produtores foi com o visual, especialmente com as armaduras e a representação dos golpes dos Cavaleiros. As “vestes sagradas” são muito bem desenhadas (mas meio exageradas e pouco práticas, com um excesso de detalhes que provocaria um olho furado caso o Cavaleiro mexesse demais o ombro, por exemplo), e os golpes empolgam com uma dinâmica que não existia no anime devido às limitações da técnica de animação na época. O grande problema é que todo o resto fica em último plano, principalmente o roteiro e, infelizmente, os personagens.

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A viagem ao Santuário ocorre após uma boa e curta aparição do Cavaleiro de Leão, mas a desculpa dada por Saori para topar a jornada faz duvidar da sanidade mental da menina. A flecha envenenada que atinge Saori – e, no anime, dava à heroína apenas doze horas de vida se os heróis não conseguissem atravessar as doze casas do Zodíaco a tempo – está no filme, mas com um propósito totalmente diferente, coisa que retira da história qualquer senso de urgência. O Santuário aparentemente fica numa dimensão alienígena, com pouca ou nenhuma referência à Grécia antiga, para onde os cavaleiros viajam através de portais criados pelas armaduras. Apesar do visual bacana, o propósito desse lugar e a importância de Athena ou da mitologia grega se perdem completamente devido à absoluta ausência de contexto no filme.

Como nesse ponto da projeção já se passaram cerca de vinte minutos, o que deixa apenas uma hora e alguma coisa para atravessar todas as doze casas do Zodíaco e chegar até o Grande Mestre (por razões que não ficam muito claras para os protagonistas, que só sabem que precisam correr até lá), a partir desse ponto o filme passa ao ritmo dos Cavaleiros de Ouro: quase na velocidade da luz. O Cavaleiro de Áries não oferece resistência e tem pouca importância (afinal, as armaduras estão intactas, pois quase não foram usadas). O Cavaleiro de Touro proporciona o primeiro momento realmente bom de Seiya no filme, mas é igualmente superado sem maiores dificuldades (como no anime, sejamos justos). A próxima casa, de Câncer, com o temível Cavaleiro chamado sugestivamente de Máscara da Morte, era a promessa de que a história iria começar engrenar, com um desafio de verdade para os heróis pela frente. Mas aí…

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Aí que nada poderia preparar um fã para o que fizeram com Máscara da Morte nesse filme. Nada. Eu poderia contar para vocês, mas quero evitar relembrar detalhes dessa sequência que, pra mim, matou de vez qualquer boa vontade em continuar assistindo ao filme. Fiquei em verdadeiro estado de choque e pavor (e não pelas razões que você imagina). Durante toda a participação do personagem fiquei esperando que aquilo fosse uma brincadeira macabra, uma loucura psicótica do Cavaleiro de Câncer. Mas não. De todo o filme, ESSA foi a grande inovação que a Toei Animation resolveu introduzir para os novos fãs. E foi terrível. Catastrófica. A ponto de me dar pesadelos. E repito: não pelas razões que você imagina.

Depois de Câncer, os Cavaleiros de Ouro passam a se amontoar. Hyoga enfrenta seu mestre, o Cavaleiro de Aquário, numa sequência rápida que não dá a menor ideia do passado dos personagens. Mas, pelo lado positivo, pelo menos lembraram do mentor de Hyoga, “honra” que não recebeu o mestre de Shiryu, já que o Cavaleiro de Libra é completamente ignorado no filme (a não ser por uma frase). Miro de Escorpião virou uma menina (isso não chega a incomodar, juro), mas sua aparição é rápida, e ela divide a tela com Shura de Capricórnio, para bater em Seiya e Shun. É aqui que finalmente acontece a segunda e maior aparição de Ikki de Fênix (a anterior dura segundos), um favorito dos fãs que arrancou aplausos no cinema. Ikki chega botando a maior banca para enfrentar não um, mais dois Cavaleiros de Ouro ao mesmo tempo. É bom esse Fênix, não? Aí ele leva um soco de Shura, desmaia, e não faz mais nada o resto do filme (ops, spoiler). Afrodite de Peixes aparece em uma única cena, fala uma frase, e morre (droga, spoiler de novo, foi mal). Virgem está lá, mão aberta e olho fechado, mas ninguém sabe muito por quê. E o Cavaleiro de Gêmeos (atenção, spoiler) é o Grande Mestre, então matamos dois coelhos com uma cajadada só. Esqueci alguém? Não faz mal, o filme também deve ter esquecido.

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Enfim, o grande problema de “A Lenda do Santuário” não é só desagradar aos fãs antigos. É alienar completamente os novos, justamente o público que estava focando. Na verdade, a esperança da Toei Animation em recuperar o prejuízo deve acabar mesmo ficando com o já citado público de 25, 30 anos, e só aqui no Brasil. O filme fracassou comercialmente no Japão (notícia não confirmada dá conta de que custou US$ 34 milhões, tendo arrecadado nas bilheterias japonesas cerca de US$ 1 milhão), e não é difícil entender por quê. Se os fãs de longa data já estavam desconfiados das alterações visuais e do desafio que seria condensar “A Saga das 12 Casas” em um único longa de uma hora e meia, o produto final não faz absolutamente nada para merecer um voto de confiança. Já o interesse dos espectadores mais novos não deve resistir mais do que alguns minutos da projeção, porque a coisa toda exige muito boa vontade pra se continuar assistindo (e essa boa vontade, como já citamos, só aguenta até a Casa de Câncer).

Apesar disso, para nós, brasileiros, resta o consolo de ver os dubladores originais, com poucas exceções, gritarem os nomes dos golpes dos Guerreiros de Athena uma vez mais, enquanto a música tema clássica toca ao fundo. Reúna alguns amigos aficionados em Cavaleiros desde a época da Rede Manchete, escolha a sessão mais barata possível, aproveite para ir ao banheiro quando o Máscara da Morte aparecer, e você provavelmente irá se divertir um pouco e ter assunto para alguns dias nos fóruns e redes sociais com os demais fãs. Mas, se eu fosse você, não elevaria minhas expectativas para além disso – muito menos o meu cosmo.

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Vitor Azambuja

Vi­tor Azambuja é gaúcho, advogado, leitor de quadrinhos, fã de séries de TV, amante de cinema, e podcaster - mas só entende mesmo de uma ou duas dessas coisas todas.

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Comentários

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5 Thoughts on “Quadrim Comenta – Os Cavaleiros Do Zodíaco: A Lenda Do Santuário

  1. leandro alves|

    valeu a resenha Vitor, mas pelo que li….nem vale a pena nem ver o poster do filme. vou ver pela internet que saí mais barato, isso se eu quiser dar uma chance ao filme e olhe lá

  2. SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS –

    SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS –

    SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS –

    SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS – SPOILERS –

    O Filme realmente tem pontos lamentáveis e adaptar uma saga de setenta e poucos capítulos em 1 hora e meia, tendo que introduzir personagens e conceito para não-iniciados, realmente, não tinha como dar certo. Talvez fosse melhor não introduzir nada.

    Quanto ao máscara da morte, é mesmo o ponto de ruptura. Eu fiquei sériamente chocado. Lamentável. Não gostei também do desafio final ter sido um monstrão shadow of colossus.

    Quanto ao santuário não ser na Grécia, mas numa espécie de dimensão paralela (meio asgard dos filmes até) eu achei bom… Ou pelo menos uma solução criativa. Com as casas ‘voadoras’ eles pelo menos não perderiam todo aquele tempo subindo as escadas. Boa parte da saga do anime é deles subindo as escadas.

    Senti falta das ilusões da casa de Gêmeos, mas gostei do visual da máscara dele. As armaduras me agaradaram mais no filme do que nos trailers e nos promos. Elas passam uma sensação de peso legal que não tinham no anime e fazem barulho quando tem atrito, isso é legal.

    Tem um furo de roteiro forte quando os cavaleiros são introduzidos na cena em que a Saori é é atacada na ponte, ela diz não saber quem são e o Tatsumi explica, mas, há um flashback dela com o Seyia na infância que deixa tudo esquisito.

    Outro furo é: Se eles são adolescentes, como que o Hyoga aparece dirigindo uma moto?

    Achei MEGA corrida a subida das casas, meio triste de ver até. O Duelo do Shura com o Shiryu era épico demais pra ter sido deixado de fora (ele não aparecia em um dos trailers, com a cena clássica deles subindo ao céu e o shura passando a armadura dele pro shiryu?). Ikki devia ter enfrentado o MDM. Shun devia ter enfrentando o Afrod… não, pera.

    A trilha também é meio lamentável, a trilha do anime é tão tão boa que nem precisavam fazer outra. Só remasterizar.

    No fim, cabem umas correções ao texto: As constelações são mencionadas sim e… bem, a primeira coisa que o Hyoga faz em tela é congelar alguém, isso é explicar que os poderes são de gelo, mas concordo que, se a idéia era reintroduzir os personagens, faltou background.

    É bom ver um frescor novo, mas podia ser melhor, podia ser mais… No fim, uma idéia melhor teria sido fazer um filme da batalha do Olimpo e encerrar a série de uma vez. Fazer esse Reboot é uma decisão meio… burra. Que se encerrasse e fizesse o reboot (ou tocasse em frente com Omega)

    Falei pra caralho.

    GOLPE FANTASMA DE FENIX.
    Pronto. Seus ceLebros apagarão tudo.

  3. Lucas Lee Gonzo|

    De todas as coisas, a mais lamentável é o Máscara da Morte. Verdade seja dita, o visual dele é até legalzinho, mas ele só tem isso. Cagaram totalmente com ele na tentativa de torná-lo um Jack Sparrow com armadura dourada. Cagaram na casa dele, com aqueles ROSTOS MORTOS CANTANDO! Cagaram até no sen ki shi ki (desculpe se escrevi errado), sem aquela fileira de mortos se arrastando até o abismo. Destruíram o meu cavaleiro de ouro preferido

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