Quadrim Comenta – Constantine (S01E01): Non Est Asylum

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00Constantine – S01E01 – Non Est Asylum
EUA, 2014 – 44min aprox.
Gênero: Série para TV, Ação
Direção: Neil Marshall
Roteiro: Daniel Cerone, David S. Goyer
Elenco: Matt Ryan, Lucy Griffiths, Charles Halford, Harold Perrineau e outros.

AVISO: Essa resenha pode conter SPOILERS, em especial com relação ao desfecho de alguns personagens ao final do episódio.

SINOPSE: Baseada na popular série de quadrinhos “Hellblazer”, “Constantine” é mais uma adaptação para TV que chama a atenção dos fãs da DC Comics. Nesse piloto, John Constantine deixa seu “exílio” auto imposto para ajudar a filha de um amigo a combater forças sombrias.

Comentar a series primere de “Constantine” pode parecer redundante. Afinal, o primeiro episódio vazou meses atrás na internet, completo, e os fãs já puderam emitir suas opiniões preliminares, além de ter uma ideia de como seria a série de TV do mago/exorcista/ocultista/detetive/picareta criado por Alan Moore nos anos 80. Todavia, o episódio “oficial”, que foi ao ar nos EUA em 24/10/2014 e no Brasil em 07/11/2014, traz algumas mudanças em relação àquele que havia vazado, especialmente com relação à personagem que havia sido escolhida para também protagonizar o programa. Assim, vale revisitar o piloto de “Constantine”, até para dar um novo voto de confiança à adaptação live action do personagem.

E esse voto de confiança depende, de fato, de uma renovação. “Hellblazer” já havia sido adaptada em 2005 para os cinemas, no filme também intitulado “Constantine”, estrelado por Keanu Reaves. O filme gerou muita controvérsia desde a produção, tanto pelas alterações visuais no personagem, quanto pela mudança de sua base de operações, da Inglaterra para os Estados Unidos (acompanhada da nacionalidade do John, agora americano). Como “Constantine”, o filme, também mostrou algumas sequências de ação e apetrechos um tanto estranhos em relação ao que se via nos quadrinhos, acabou fracassando entre os fãs.

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Quase dez anos depois dessa primeira tentativa em outras mídias, a longeva série em quadrinhos “Hellblazer” foi cancelada pela DC Comics – que lançou uma nova revista sob o nome “Constantine”, com o personagem reimaginado numa versão mais “heroica” – mas finalmente ganhou uma adaptação para a TV, produzida pela própria Warner Bros. e exibida pela NBC nos Estados Unidos. Ironia das ironias, se o Constantine dos quadrinhos em 2014 pode até combinar mais com o “Constatine” do filme de 2005, é justamente o Constantine que os fãs viam em “Hellblazer” que chega à TV.

Escaldados pelo filme, o maior medo dos “seguidores” das aventuras de John Constantine era ver o personagem completamente descaracterizado na série de TV. As histórias de “Hellblazer” saíam pelo selo “Vertigo”, e não eram para pessoas de estômago fraco. Temas polêmicos eram abordados, situações chocantes eram constantes, e o final de uma aventura muitas vezes não tinha nada de feliz. Como acreditar, então, que uma série de TV onde John sequer pode aparecer fumando (por restrições institucionais da NBC), conseguiria fazer jus ao personagem?

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Bom, a julgar pelo piloto, a série deve se esforçar. O episódio abre com John amarrado a uma maca, “sofrendo” um tratamento de eletrochoque, que ele mesmo procurou ao se internar voluntariamente em um sanatório. A cena é impactante para a abertura de uma série de TV, especialmente por já retratar o protagonista de forma nada lisonjeira. Mantendo um ritmo sombrio, ao longo do episódio veremos possessões demoníacas, inocentes morrendo, anjos de moral dúbia, demônios que sequestram criancinhas sem dó nem piedade, magia negra e, claro, o bom velho cinismo de John Constantine.

O ator Matt Ryan conseguiu incorporar muito do que torna o personagem reconhecível para os fãs, visualmente e nos trejeitos. Embora a série se passe nos EUA, John continua sendo um inglês desbocado, irônico e mal humorado, tal como visto nos quadrinhos. E ele fuma, lógico, ainda que isso não apareça explicitamente na série (em uma cena podemos ver ele apagando um cigarro, e em outra portando um isqueiro). Pode parecer besteira, mas nos quadrinhos o vício de John em cigarros levou a um importante arco de histórias (inclusive utilizado na trama do filme de 2005), que seria desperdício não aproveitar na TV. Outros elementos importantes de “Hellblazer” estão lá também, principalmente sobre o passado de John. A série não é um conto de origem, pois John surge como alguém que já faz esse tipo de trabalho há alguns anos, e traz consigo uma pesada bagagem emocional. Esses dados vão sendo revelados aos poucos, nos diálogos (felizmente não temos os insuportáveis flashbacks que viraram moda desde “Lost”), e assim sabemos do maior peso que John carrega: não ter sido capaz de salvar a menina Astra, que foi condenada à danação eterna no Inferno por causa de um exorcismo que John conduziu de maneira desastrosa anos antes. Menção honrosa aos efeitos visuais que, se não são perfeitos, pelo menos se esforçam para apresentar demônios… bom, demoníacos (ao contrário do que vemos em séries como “Supernatural”, onde os seres infernais têm sérias restrições orçamentárias e se limitam a usar lentes de contato pretas).

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Na parte final do episódio já é possível notar algumas diferenças entre a versão “vazada” e a “oficial”, como comentamos no começo dessa resenha. O demônio que John enfrenta no clímax da ação agora assume a forma do próprio Constantine, numa versão distorcida e sombria do protagonista, reforçando a culpa que John sente pelo que aconteceu à menina Astra, e também denotando um certo desprezo que ele teria por si mesmo. Detalhes à parte, a principal mudança foi com relação à personagem Liv. Introduzida no piloto como uma coadjuvante para John, no estilo “novata que representa o público enquanto a mitologia vai sendo apresentada”, a personagem não parece ter agradado aos produtores – assim como não agradou quem assistiu ao episódio já há alguns meses, quando ele vazou. Por isso, na versão que foi ao ar oficialmente, o destino de Liv é alterado. Se antes John era mostrado convencendo a moça a lhe ajudar na luta contra os demônios (algo bem estranho para o solitário bruxo), agora Liv nem aparece depois que a história principal do episódio se encerra. Na cena do bar, ao invés de Liv, vemos Chaz avisando a John que a moça (muito sensatamente) empacotou todas suas coisas e se mandou do esconderijo onde eles estavam, deixando apenas um mapa com várias cidades onde ocorrem ou ocorrerão atividades demoníacas (a personagem tinha o poder de prever essas ocorrências utilizando um artefato e o tal mapa). Foi a solução que os produtores encontraram para mandar John de um canto para outro, sem precisar de Liv, durante a temporada (já que a série vai repetir “Supernatural” também no seu estilo “itinerante”).

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Mas não se enganem: já no segundo episódio veremos uma nova coadjuvante, Zed, que nos quadrinhos namorou Constantine. Aparentemente a química entre os dois personagens é melhor do que entre John e Liv, mas o tempo dirá se dá um sidekick para John Constantine e se foi uma escolha acertada dos produtores da série de TV. Ah, e quanto as demais referências ao Universo DC? Bom, “Constantine” não se passa no mesmo universo de “Arrow” e “Flash”, então esqueçam o que já vimos nessas outras séries. Com relação aos quadrinhos, alguns personagens clássicos do nicho “mágico” da editora prometem dar as caras. Pessoalmente, fiquei bem empolgado com a aparição de um certo elmo na metade do episódio… É esperar pra ver.

Vitor Azambuja

Vi­tor Azambuja é gaúcho, advogado, leitor de quadrinhos, fã de séries de TV, amante de cinema, e podcaster - mas só entende mesmo de uma ou duas dessas coisas todas.

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Comentários

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4 Thoughts on “Quadrim Comenta – Constantine (S01E01): Non Est Asylum

  1. leandro alves|

    eu estava esperado vocês do Quadrimcast analisarem o episódio do Constantine desde que vazou pela net. demoraram hein?

    eu ainda tenho fé que a série possa ser boa e concordo, aquela Liv não parecia se encaixar. John enfrenta os demônios sozinho, tipo, ele recebe uma ajuda, mas não tem um ajudante. e não acho o filme do Keanu Reeves ruim, embora faça um Constatine diferente da HQ.

    vejo que a Warner está empolgada com a série de heróis…só me pergunto como farão Preacher (A Warner comprou os direitos?), que pelo conteúdo fantasioso, doente e grotesco deveria passar na HBO no minimo.

    enfim, bela resenha Vitor Azambuja.

  2. Henrique JB|

    Gostei bastante da adaptação de Constantine. Foi uma versão bastante digna do mago da Vertigo.

    Ela prova aquilo que eu sempre digo: os leitores quase sempre estão certos. Não é certo tachar os fãs de “chatos” quando eles protestam contra as mudanças feitas pelos executivos de cinema e TV em seus personagens favoritos. A série de Constantine é um bom exemplo. Basta o estúdio respeitar o visual, as características básicas do herói, o conceito original da HQ, e ele terá nosso apoio.

    Existem exceções, claro, em que fomos surpreendidos com escolhas inesperadas, como Heath Ledger como Coringa, ou Guardiões da Galáxia. Mas em geral, as “novidades” anunciadas nas produções cinematográficas (Tocha Humana negro, Mulher Gato designer de cosméticos, etc) são indícios de desastre.

  3. Henrique JB|

    O único ponto fraco da série (que não chega a estragar a experiência) é o ritmo acelerado da história.

    Constantine é um personagem de histórias de horror. O gênero depende do desenvolvimento gradual do suspense, criando um clima de medo e morte iminente ao lidar com o desconhecido. A regra clássica indica que um monstro pode ser assustador quando o enxergamos à luz, mas ele é bem pior quando o vemos nas sombras, a partir de sons, pegadas, imagens parciais. Temos grandes seriados nesse estilo, como Arquivo X ou True Detective (que não trata do sobrenatural, mas consegue ser apavorante).

    O Constantine da série de TV, como vocês bem disseram, se aproxima mais do formato aventuresco de Supernatural, Buffy ou Angel, em que as criaturas do além aparecem de forma tão escancarada que não espantam, passam a ser parte natural da trama. O anjo Manny, que abre as asas logo na primeira cena, é um exemplo – não houve chance de imaginarmos quem era, ele logo se exibiu. É um pena.

    Ainda assim, é Constantine e vale a pena.

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