Quadrim Entrevista - Yowiya

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Prepare-se pra adorar um novo deus, #TropaQuadrimcast! O QUADRIM ENTREVISTA fala de um deus chimpanzé que quer novos seguidores! Batemos um papo com HIRO KAWAHARA e seu projeto YOWIYA!

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Quadrim: Hiro, primeiramente queremos agradecer pela disponibilidade em nos dar uma entrevista. A nossa primeira pergunta é básica: como você se tornou um fã de quadrinhos?
Hiro: A minha primeira lembrança dos quadrinhos já era de qualidade. Lembro que comprava as revistas do Tio Patinhas e do Pato Donald religiosamente aos domingos, quando tinha já entre 5 a 6 anos. Eu lembro que só comprava por causa das histórias desenhadas e escritas pelo Carl Barks (embora na época eu não sabia e nem me importava quem era o autor).

Depois, aos 15 anos entrei em contato com a revista Kripta, da antiga Rio Gráfica e Editora, que depois se tornaria a editora Globo. Foi a primeira vez que relacionei traços e roteiros com autores. Adorava, por exemplo, quando a revista tinha histórias com desenhos do José Ortiz, Leo Duranona ou Alfredo Alcala. Foi nessa revista que conheci os trabalhos de Alex Toth e do Berni Wrightson, que são referencias até hoje.

Paralelamente também comprava as revistas da Marvel e DC, coisa que fiz até em meados da década de 90. Recomecei a comprar as revistas dos X-Men, recentemente, por causa do trabalho do Chris Bachalo.

Hoje eu compro quadrinhos como referência de roteiro ou desenhos, como Três Sombras, do Cyril Pedrosa, ou Ye, do Guilherme Petreca, quase todos ligados a realismo fantástico. Também leio mangás de terror, mas esses só na internet.

Quadrim: Além do seu trabalho de quadrinista, você é conhecido por fazer vários trabalhos pras “toalhas” de bandeja do McDonalds. Como é conciliar essa carreira profissional e os quadrinhos?
Hiro: É difícil, tem dias que você quer espremer o relógio para sair mais horas. Por exemplo, nesse momento estou brigando para dividir meu tempo com uma lamina de bandeja nova e produzir mais páginas de Yowiya, ambos são importantes e ambos tem um deadline bem rígido.

Geralmente eu divido meu tempo com a produção dos quadrinhos depois das 10 da noite, quase sempre vou desenhando até as 3 ou 4 da manhã, o que é bem desgastante.

Mas o esforço compensa muito. Os quadrinhos me trouxeram um alívio criativo que as laminas de bandeja não podem me proporcionar. São 22 anos fazendo essa peça, ao mesmo tempo que tenho outros clientes, agências e empresas, que também tenho que honrar de maneira profissional. Mas graças a esse trabalho é que eu tenho uma grande projeção, é um trabalho que atravessou duas gerações e quero aproveitar ao máximo essa oportunidade, uma hora tudo isso acaba e não quero ficar me apegando ao passado, prefiro construir coisas novas.

Nos quadrinhos eu posso ter liberdade criativa total, coisa que no trabalho com ilustração eu não tenho. Simplesmente chegou uma hora na minha carreira em que senti muita falta desse tipo de arte, de conseguir contar uma histórias que façam algum sentido pra mim. Hoje, graças ao Catarse e a CCXP, isso não só é possível, como existe um direcionamento, uma linha de ação que ajuda a não ficar boiando e dependendo de livrarias e editoras. É uma época muito boa para quem quer fazer quadrinhos.

Faço os quadrinhos por puro prazer, porque financeiramente ainda não dá garantir o feijão na mesa, então encaro isso tudo ainda como um projeto pessoal, que espero um dia dedicar em tempo integral, juntamente com as aulas, e assim não precisar mais ilustrar comercialmente.

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Quadrim: “Yowiya” mexe com um tema interessante: Uma divindade dos chimpanzés buscando ser idolatrada por humanos. Como surgiu essa ideia?
Hiro: A idéia nasceu de repente em abril desse ano depois de ver uma reportagem no Independent onde mostrava um grupo de chimpanzés que tinham um comportamento anormal, ritualístico, e que imaginava-se ser algo com um tom religioso.

Não precisei de muita coisa, na frente da tela já imaginei um fiapo de história muito interessante. A idéia era tão forte que deixei de lado o quadrinho original que estava fazendo (A Lenda da Princesa Suada) e comecei a escrever o conceito original da história de Yowiya. Inclusive, o nome Yowiya veio de uma das personagens que era da história da Princesa Suada,

O que me chamou a atenção foi justamente como seria um conceito de Deus entre macacos, como seria essa entidade, o que significa o ritual. Como um ser primitivo entende o que é divino, e principalmente, algo que ele não consegue ver no mundo real. Significa que os macacos estavam acreditando em algo e em grupo, o que pra mim é um conceito bem humano.

Daí imaginei como seria um panteão de deuses de todos os animais. Se havia o deus dos macacos, talvez existisse um deus dos gorilas, um deus dos babuínos…e imaginei que esses deuses só conseguissem ver aqueles que os veneravam, ou seja, eram isolados do resto do mundo.

Daí para imaginar o que aconteceria se um deus dos macacos descobrisse que existem outras criaturas mais evoluídas e mais interessantes que os chimpanzés era só um passo. Achei muito boa a idéia de criar um deus animal que cria consciência humana e deseja coisas maiores, melhores, só por causa do ego. Cria-se um paradoxo que questiona se Yowiya é um deus que quer ser humano, mas se quer ser humano também não pode ser deus. Esse conflito simples e infantil faz todo o sentido vindo da cabeça de um ser cultuado por milênios por animais.

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Quadrim: Os personagens da história são sem par: uma ilustradora que se isola do mundo, o espírito de uma modelo francesa, o deus chimpanzé… Os personagens já existiam antes em sua mente ou foram criados junto com “Yowiya”?
Hiro: Com a base da história principal pronta, eu fiz o primeiro esqueleto do roteiro, bem cru. E nele só cabiam mais três personagens, mas não sabia exatamente quem. Em 2015 eu já havia bolado uma história em que o espírito de uma menina se abrigava nos cabelos da sua amiga viva e ambas viviam juntas. Encaixei esse conceito nas personagens femininos de Yowiya e naturalmente elas ganharam mais características de comportamento e físicos. Por exemplo, Kipky é ilustradora porque desenho tem um papel importante na história, pontos chave do roteiro são acionados através de um desenho. No início achamos que ela se isola por ser apenas anti-social, mas existe um outro motivo para que isso aconteça.

O fato dela ser cheinha também foi planejado, sempre quis criar uma personagem gordinha que fosse sensual e divertida, gostei muito de desenhar essa menina. A modelo, Manon, foi planejada para ser o contraponto de Kipky, fisica, intelectual e espiritualmente, mas o corpo todo longo e deformado nasceu por acaso, de um sketch que saiu errado enquanto fazia os concepts iniciais , inicialmente ela teria o corpo normal de uma pessoa. O conceito das viagens entre dimensões pelo toque e que dependem do estado de consciência de Kipky (as viagens são diferentes se ela está acordada ou dormindo) também não estavam previstas no início.

Olhando para o plano geral, a história de Yowiya fluiu muito fácil, de cara já sabia como começaria e como terminaria, o recheio foi-se criando sozinho a medida que foi sendo desenvolvida. E ainda está sendo criado, nesse exato momento ainda estou finalizando as páginas e altero um ponto ou outro para inserir um detalhe que só se define na hora de rabiscar as páginas.

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Quadrim: Além da sua arte, haverão participações especiais em pedaços da obra, com artistas como Lu Cafaggi, Samanta Floor, Gustavo Duarte… Qual foi o processo pra conseguir essas participações?
Hiro: Isso foi uma idéia que veio quando a produção da história já estava acontecendo.

A personagem Kipky, a ilustradora, só usaria camisetas em toda a história. Era uma maneira de mostrar que ela não seguia os padrões femininos de moda, uma outra palavra para desleixada, mas ao mesmo tempo era descolada e tinha bom gosto, não usava camiseta comprada em loja de departamento, mas em sites de artistas independentes e galerias de arte.

Mas ela aparece praticamente em todas as páginas, são dezenas de desenhos dela de camiseta. Eu achei que não teria tempo nem paciência para criar dezenas de camisetas diferentes, e como dizem, a necessidade é a mãe das invenções.

Eu sou um profundo admirador desse pessoal todo, a maioria deles eu já sou amigo ou nos encontramos pessoalmente em algum evento, então escolhi a dedo alguns (não todos que eu queria), enviei um convite feito com carinho e todos toparam na hora. As imagens deles vão aparecer as vezes completos, mas na maioria deles sera só um detalhe. A postura da personagem no quadrinho define o quanto de desenho aparece na camiseta, o que é bem legal porque o desenho fica mais natural e sutil. Dá um tom a mais em termos visuais.

Mas no final vai ter uma minigaleria de todos os desenhos usados na história.

Quadrim: Algumas recompensas são bem peculiares: amuletos Fu, copos de cerâmica Xiao Bei… Como decidiu fazer essas recompensas?
Hiro: Em parte por causa das tatuagens que aparecem no corpo de Manon, feitas por um espírito de um feiticeiro de magia negra taoísta que fica preso no mesmo universo dela. Ele tatua o corpo com símbolos antigos de proteção chinesa, coisa que eles tem aos montes. Eu estudo há algum tempo taoísmo e I Ching, pra mim foi fácil incorporar isso no universo de Yowiya. Os símbolos usados na tatuagem fazem parte do amuleto das recompensas.

O copo foi uma consequência, tem um merchandising bem safado no começo da história, onde o copo aparece na mesa da personagem Kipky. Minha esposa trabalha com cerâmica, ela faz copos queimados em alta temperatura que ficam com uma aparência oriental rústica. Foi só juntar um mais um pra isso acontecer.

Fu e Xiao Bei simplesmente são amuleto e copo de cerâmica em chines.

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Quadrim: O projeto já está financiado com sucesso e atingindo as metas estendidas, inclusive uma segunda HQ com personagens de “Yowiya”. Isso significa que, mesmo que a meta não seja atingida, poderemos ver mais desse universo criado por você?
Hiro: Sim! No início imaginei Yowiya como uma historia unica. E é, ele não volta mais.

MAS as personagens Kipky e Manon ganharam vida própria enquanto desenvolvia a história, vi que elas tem muito potencial para mais histórias. Eu pessoalmente me apaixonei pelo arco de histórias só das duas, tanto que já escrevi dois esqueletos de histórias, uma que foca no assassino de Manon, e a outra tem um salto no tempo de 30 anos e elas descobrem que a morte de uma significa a condenação de outra.

Mas não posso garantir que elas serão produzidas tão cedo, Com exceção das tirinhas de Manon e Kipky em estilo cômico, que serão produzidas caso a meta estendida do Catarse seja atingida, tenho dois projetos de quadrinhos na fila para 2017 e 2018, bem diferentes do que fiz até agora, então acredito que elas demorem um pouco mais para serem realizadas. Ou não, por experiência própria já vi quantos projetos de quadrinhos deram lugar a outras historias ao longo do tempo, então não garanto nada.

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Quadrim: Quem já apoiou, o que pode esperar do livro?
Hiro: É difícil pensar nessa parte. Sinceramente não criei expectativas para fazer Yowiya, apenas estou fazendo algo que estou gostando muito. Espero simplesmente que o publico, que já conhece meu trabalho, goste de algo um pouco diferente. Não sera uma história alucinada e nonsense como foi em “Maravilhoso”, mas algo mais linear e fantasioso. Estou gostando muito dos desenhos e dos diálogos, acho que estão bem fluidos (e tem menos textos que Maravilhoso, que era uma verborragia incessante).

A história sera preto-e-branco, e acho que foi uma decisão acertada. Acho que isso combina bem mais com o universo de Yowiya e, no geral, acho que a obra está bem bonita e coerente.

Quadrim: Pra finalizar, que recado você daria aos leitores que possam estar indecisos se devem investir no projeto?
Hiro: Quem gosta de fantasia e ficção tem um prato cheio aqui. A história tem deuses de macacos, dimensões paralelas, viagens no tempo, monstros enormes, deuses zumbis, magia negra chinesa, mortes horríveis, sexo animal e duas garotas adoráveis. Só não tem bichos fofinhos e final engrandecedor, no estilo “He Man”. Tudo isso feito no meu estilo de desenho já bem conhecido.

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Ajoelhe-se e contribua, Tropa! Basta clicar na imagem abaixo e contribuir! A partir de R$ 30,00 você receberá um exemplar garantido (o projeto já está financiado) e o prazo para contribuir é até 02 de setembro de 2016! Corre lá!

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Equipe Quadrim

Nerds e Apaixonados por cinema, séries de TV, animação, games e, especialmente, quadrinhos; os membros da Quadrim se reúnem aqui pra dar sua opinião, mesmo sem ninguém pedir, sobre todos os assuntos que fazem parte desse maravilhoso mundo.

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